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Medidas e medições para todos

Crónicas de reflexão sobre medidas e medições. Histórias quase banais sobre temas metrológicos. Ignorância, erros e menosprezo metrológicos correntes.

Medidas e medições para todos

Crónicas de reflexão sobre medidas e medições. Histórias quase banais sobre temas metrológicos. Ignorância, erros e menosprezo metrológicos correntes.

QUADRATURA DO CÍRCULO

QUADRATURA DO CÍRCULO

E se medíssemos?

 

A expressão “quadratura do círculo” parece ter perdido o significado original de impossibilidade de resolução (prática) de problema de geometria, ou impossibilidade de traçar um quadrado de área (exatamente) igual à de um círculo contido numa circunferência desenhada previamente.

Aparentemente, esta expressão (“quadratura do círculo”, sinónima de “impossibilidade”) é agora idiomática e transversal a vários idiomas.

A “quadratura do círculo” parece ser só e correntemente uma expressão comum sem qualquer ligação com a geometria. Ou até nem isso: pode ser somente uma expressão sonora e sonante, por exemplo, para nome de programa de TV (tal como “circulatura do quadrado”, ou outra designação contemporânea – pós‑moderna?! – mais ou menos idiota) protagonizado por pessoas  conhecidas de alguns, sem quaisquer ligações a um problema (antigo) de geometria, ou à Geometria.

Todavia, quanto a este problema (geométrico) subjacente à origem daquela expressão, não há dificuldade, muito menos a impossibilidade em encontrar, achar e criar um quadrado com a área de um círculo dado.

Seja A a área de um dado círculo; um quadrado com a área A tem lado exatamente igual a A1/2. Qual é a dúvida, a dificuldade, a impossibilidade?

Contudo, o problema (assim como o da trissecção de ângulos e o da duplicação de cubos) era/é uma impossibilidade se quiséssemos/quisermos resolvê‑lo (com exatidão absoluta) só com compasso e régua.

Metrologicamente, não há dificuldade: no campo da Metrologia não há exatidão absoluta, e a incerteza, a resolução e eventuais erros metrológicos não nos deixam dependentes de absolutismos, perfeições e exatidões inquestionáveis.

Todavia, metrologicamente, também há muitas impossibilidades: por exemplo, “dar um passo* maior do que a perna”(?) – melhor, caminhando, dar um passo maior do que quatro pernas**(!).

Impossível é também medir qualquer coisa – uma distância, um deslocamento, uma dimensão – de não mais do que um décimo de milímetro (0,1 mm), por exemplo, a espessura de um cabelo, com uma régua de escritório graduada em milímetros.

E as dificuldades, ou impossibilidades metrológicas, podem estender‑se a todas as grandezas, e não só aos comprimentos***.

 

*Um “passo” (romano, normal), unidade de medida de comprimento, correspondia à distância entre a pegada de um pé e a pegada seguinte do mesmo pé (o contributo de duas pernas!). A milha (romana), mil passos, corresponderia a 1418 m e cada passo valeria 1,418 m.

As milhas romanas eram assinaladas nas estradas por marcos … miliários.

 

**Duas pernas rebatidas, a espargata (espacate, em brasileiro)!, constituiriam meio passo máximo (segundo o critério romano), mas coisa impraticável para quase todos nós; duas espargatas, ou quatro pernas, seriam um passo máximo.

 

***Calvin, o horário [de estudo] que fizeste para ti tem durações mais pequenas do que o teu relógio pode medir – comentava Hobbes (Haroldo, em brasileiro), o tigre de Calvin. [Calvin & Hobbes: Progresso científico … uma treta; Bill Watterson]

 

2019‑02‑21

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