PESOS E MEDIDAS
PESOS E MEDIDAS
Ao quilo e ao litro
Pedir, no mercado, cinco quilos de batatas não apresenta ambiguidade alguma por todos saberem do que se trata: cinco quilogramas (kilogramas) de batatas. Quilo é, no comércio e na linguagem correntes, uma abreviatura, uma versão curta de “quilograma” (símbolo, kg), apesar de kilo- ser um prefixo SI (símbolo, k) para (o multiplicador) 103, e não uma abreviatura! Como tal, (este prefixo) usa‑se, por exemplo, em “kilometro”, “kilolitro”, “kilokelvin” (em português corrente e tradicional: quilómetro; quilolitro; quilokelvin) e todas as (possíveis) expressões em que a medida tem um valor (mormente) da ordem de grandeza dos milhares, ou das dezenas de milhar.
Pagamos a energia elétrica – muitos chamam-lhe “pagar a luz” – de acordo com os quilowatts-hora, kilowatts‑hora (kWh, kW∙h) – e não de acordo com os quilowatts por hora (kW/h), ou quilowatts (kilowatts, kW) – consumidos. Medimos a velocidade do carro em quilómetros por hora (km/h, km∙h−1) e não em quilómetros-hora (kmh, km∙h); outrossim (o mesmo que “de igual modo”), a variação da temperatura atmosférica, durante esta manhã, poderia exprimir‑se em graus Celsius* por hora (°C/h, °C∙h−1).
Compramos combustíveis ao litro, mas às aeronaves o combustível é fornecido ao quilograma, ao quilo (um quilograma de combustível tem sempre o mesmo número de moléculas, um litro, não).
O consumo de combustível do carro exprime-se, entre nós, em litros** por cada cem quilómetros percorridos [L/(100 km)], ou centilitros por quilómetro (cL/km), embora a potência do carro se expresse correntemente em cavalos (cv), uma unidade de potência do “sistema inglês”.
O feijão é comprado ao quilograma (kg) – ao quilo – no supermercado, e ao litro (L) nas mercearias antigas e em muitos mercados do interior de Portugal. O vinho e a água, dependendo da quantidade, compram-se ao litro (L), ao quilolitro (kilolitro, kL), ou ao metro cúbico (m3). Por convenção, o litro (L) é agora equivalente ao decímetro cúbico (dm3) e está desligado (do kg) da água.
Um litro (1 L), unidade de capacidade, não era, por definição, exatamente um decímetro cúbico (dm3) – eram diferentes as definições de litro e de decímetro cúbico –, mas, há cerca de cinquenta anos, o litro passou a ser considerado equivalente ao decímetro cúbico, unidade de volume.
Litro e decímetro cúbico tinham diferentes definições e valores: litro era o volume de um quilograma de água pura à temperatura de (cerca de) quatro graus Celsius (4 °C), a temperatura da massa volúmica máxima da água; todavia, o decímetro cúbico é a milésima parte do metro cúbico***, por sua vez derivado do metro, que é definido, hoje, a partir da velocidade da luz no vazio (c0) e do segundo (s).
* Uma designação alternativa de “grau Celsius” poderia ser “celsius” (admitem alguns), à semelhança de, por exemplo, “newton(s)”, “watt(s)”, “joule(s)”.
** O litro (L) não pertence ao SI, mas é aceite neste sistema; é uma “unidade de medida fora do sistema”, embora (agora), por convenção, seja equivalente ao decímetro cúbico (dm3). Todavia, ninguém tem cérebro de litro e meio (1,5 L), sim 1500 cm3 (1,5 dm3).
*** O litro equivalia, entre outros valores, a 1,000 028 dm3, antes da convenção (em 1964) que estabeleceu a equivalência entre decímetro cúbico (dm3) e litro (L, ou l). Isto é, “litro” passou a ser uma designação alternativa de decímetro cúbico (dm3), deixando de ser válida a definição (de litro) de antigamente.
2020‑04-23