MEDIR PELA MESMA BITOLA
MEDIR PELA MESMA BITOLA
Referências e padrões metrológicos
“Não nos meçam pela vossa bitola” – um argumento aparentemente de superioridade, de autoridade e de inflexibilidade – é uma expressão comum, corrente e frequente.
Com bitolas e padrões “superiores” não se brinca!
Contudo, medir pela mesma bitola é o que proporciona a comparabilidade, a objetividade e constitui o alicerce da rastreabilidade metrológica*.
Medir pela mesma bitola é um dos fundamentos da Metrologia. (E talvez também das democracias.)
Se fôssemos partidários, seguidores e respeitadores de valores, de padrões e de critérios gerais, comuns, rigorosos, não reclamaríamos padrões especiais, “nossos”: aceitaríamos o mesmo padrão para todos, não?! E deveríamos preocupar‑nos com o não cumprimento de padrões (comuns); os padrões comuns garantem a comparabilidade.
Medimos os comprimentos pela bitola “metro” (m) do SI; medimos as massas, ou pesos, pela bitola “quilograma” (aliás, kilograma, kg) do SI, entre outras bitolas de outras grandezas** quando fazemos medições.
Contudo, bitola tem vários significados – como quase todas as palavras portuguesas, é polissémica –, mesmo na área da metrologia‑popular, onde frequentemente significa “padrão”, “referência”, “standard”. Talvez o significado mais corrente de “bitola” seja o de distância entre carris, no mundo ferroviário.
O padrão, a referência, a bitola comum é fundamental, essencial e incontornável num sistema metrológico***.
Pela bitola caseira, dizer que o menino não tem temperatura, significa que não tem febre – ter febre, ter temperatura corporal superior a um valor de referência, é sintoma de doença –, significa que a sua temperatura corporal é de cerca de 37 °C. E, de modo idêntico, se o idoso não tem colesterol, significa que o seu colesterol está abaixo do(s) valor(es) de referência.
Pela bitola do sistema educativo português, ter negativa numa prova de avaliação é ter uma nota ou classificação inferior a dez (“valores”); as notas ou classificações negativas, na escola, não são classificações inferiores a zero.
Pela bitola corrente, uma “pressão negativa” é uma pressão inferior a uma atmosfera (1 atm≡760 mm Hg).
Aparentemente, não é só a Metrologia que tem bitolas: por exemplo, o senso e linguagem comuns também têm bitolas – e cada área (e cada um?) tem a sua!
*Rastreabilidade metrológica – Propriedade dum resultado de medição pela qual tal resultado pode ser relacionado a uma referência através duma cadeia ininterrupta e documentada de calibrações, cada uma contribuindo para a incerteza de medição. [VIM 2012]
**Há “bitolas”, ou padrões, para as unidades de base do SI, bem como para outras unidades.
***Há uma hierarquia de bitolas, de padrões no SI. Por exemplo, para o padrão do quilograma (aliás, kilograma) existe o padrão primário (em vias de se tornar obsoleto), em Sèvres, em França, e padrões secundários, cópias do primeiro, nos laboratórios nacionais dos países aderentes. Dentro destes países há instituições com padrões de ordem inferior que, por exemplo, servem para a comparação e verificação direta dos instrumentos dos estabelecimentos comerciais.
2018‑10‑18