MEDIR A INTELIGÊNCIA
MEDIR A INTELIGÊNCIA
Medir, imperativo civilizacional?
Aquilo que nós passámos não dá para medir com um metro nem pesar com uma balança (“O fim do homem soviético” – Svetlana Aleksievitch).
Não se pode medir uma grandeza que não está (bem) definida de modo objetivo (e universal) e da qual não se conhecem relações com outras grandezas mensuráveis.
Quando lemos que D. João II (o “Príncipe Perfeito”, rei de Portugal) era mais inteligente do que o Infante D. Henrique (o das Navegações, Caminhos Marítimos, Descobertas, Achamentos, Reconhecimentos), gostaríamos de saber quanto mais inteligente: 20%?!, 30%?!, 50%?!
(Ocorre dizer da inteligência o que alguém dizia da “qualidade”: não sei o que é, mas reconheço-a quando a vejo.)
Também não sabemos abaixo de que valores da inteligência começa a estupidez, já que, aparentemente, uma seria a antinomia da outra. (Mas sabemos, pelo pH, quando acaba a acidez e começa a alcalinidade.)
A inteligência pode variar episodicamente: quem beber muito (álcool) fica transitoriamente menos inteligente – pese embora, em geral, fique mais desinibido!, com mais inteligência emocional(?!) –, mas, não perde altura, nem peso, nem perímetro abdominal!
Mede-se a inteligência através do(s) QI – Quociente(s) de Inteligência! (Parece haver várias métricas e variedades de inteligência.)
Einstein atingiu 160, tal como Bill Gates, mas uma adolescente inglesa que mediu o seu QI em 2014 conseguiu um pouco mais do que eles.
(Há quem diga que “inteligência” é o que resulta da determinação do QI!)
O QI não tem unidades; o QI é adimensional, como um juro, ou um ratio. (Há gente com elevado QI e comportamento risível: nabos inteligentes?!)
Há vários critérios e escalas para medir a inteligência.
O valor da medida da inteligência depende das técnicas, dos métodos e dos procedimentos de medição: não tem – para já – grande reprodutibilidade, um conceito (técnico) metrológico.
E certamente, também a beleza, a fé e a felicidade, entre muitas outras virtudes, capacidades e talentos seriam (se quiséssemos) mensuráveis.
Também ousamos medir, por exemplo, o desenvolvimento económico, social e cultural de uma comunidade. Ou, entre outros, pesar um desastre, em euros, ou outra unidade monetária.
Dizem os especialistas que há inteligências e não a inteligência: há inteligência para o xadrez, inteligência para a matemática, inteligência para os negócios, entre muitas outras modalidades. São dezenas e dezenas de inteligências caracterizadas pelos estudiosos (da inteligência). (Há idiotas inteligentes?!)
Se a inteligência (um talento, não uma grandeza) é essencialmente a capacidade de adaptação, então, até as amibas são inteligentes! Sem esquecer os caracóis, as sardinhas e os crocodilos.
Não se mede o movimento (um fenómeno): mede-se distâncias, velocidades e acelerações, por exemplo. Não se mede a luz: mede-se a sua velocidade, a(s) sua(s) frequências e o(s) seu(s) comprimento(s) de onda, entre outras grandezas.
Em determinadas áreas, corporações e atividades, pretende-se medir o mérito; frequentemente, os proponentes de critérios e medidas do mérito costumam ficar bem classificados, ou medidos, de acordo com esses mesmos critérios e medidas. (O mérito será um fator que promove e desenvolve a desigualdade?!)
Medir não é só uma compulsão e um imperativo civilizacional: às vezes é também uma atitude e um processo oportunista.
2021-12-09