ERROS DE MEDIÇÃO
ERROS DE MEDIÇÃO
Valores erráticos
Errar é humano!
Agora em latim, mais erudito, mais profundo e mais solene: Errare humanum est.
E quanto mais se erra mais humano se é?!
Errare humanum est, perseverare diabolicum.
O paciente levantou-se cedo e, em jejum – como deve ser, diz-se –, visitou duas farmácias diferentes para que lhe medissem o colesterol. Na primeira farmácia deram‑lhe 234 mg/dL; na segunda farmácia, cerca de vinte minutos depois do teste na primeira farmácia, foram mais amigos e deram‑lhe 206 mg/dL* (duzentos e seis miligramas de colesterol por cada decilitro de sangue, um pouco mais do que 2 g/L, dois gramas de colesterol por cada litro de sangue).
Em outra ocasião, numa sala de enfermagem, o paciente saltou para cima da balança que tinha identificado como uma balança de máximo, das que conservam a indicação do peso no visor após a retirada do objeto. A enfermeira comentou ter havido aumento do peso do paciente relativamente ao valor da pesagem precedente, seis meses antes. O paciente ousou dizer que a balança não pesava bem e, para mostrar isso à enfermeira, voltou a subir para a mesma balança, agora suavemente: o novo valor foi cerca de 150 g menor.
Medir mais do que uma vez, frequentemente, torna evidentes a incerteza e os erros de medição.
Mas não só: um homem com um relógio sabe que horas são; um homem com dois relógios nunca tem a certeza.
Quando se mede uma única vez, como sucede em casa e no supermercado, aparentemente não há erros nem incerteza da medição.
Mesmo que não sejamos metrologicamente ignorantes, porque complicar?
Os erros das medições caseiras e das medições no mercado não são geralmente relevantes.
Quando as medições não são feitas em casa nem no supermercado, em geral convém não sermos displicentes.
O leitor e alguns amigos fazem a medição de uma mesma distância – não relevemos, nem revelemos a técnica, o método e os procedimentos – e comparam os resultados: 15,5 m; 15,4 m; 15,5 m; 15,6 m; 16,8 m; 15,6 m; 15,4 m. Há aqui seis valores que são relativamente próximos; o restante (16,8 m) é bastante diferente dos seis primeiros: é elevada a probabilidade de que este valor (16,8 m) tenha erros, irregularidades, ou enganos inadmissíveis: descarte-se, é um valor errático! É um valor perdido no meio dos outros valores; é uma carta fora do baralho.
Os erros, em princípio, podem ser evitados, corrigidos, compensados; a incerteza, não. A incerteza pode ser controlada, mas não eliminada.
Enquanto não nos livrarmos dos grandes erros, não enxergamos os pequenos. E os erros sistemáticos, ou persistentes, são geralmente mais fáceis de eliminar – quando se tem consciência e conhecimento deles – do que os aleatórios, ocasionais, ou fortuitos.
Não é possível fazer uma lista exaustiva dos erros de medição e suas fontes, nem uma lista completa e indiscutível das causas das incertezas. Além disso, medir grandezas mecânicas é suscetível de erros diferentes, por exemplo, dos das grandezas elétricas.
*206 mg/dL=206x10−3 g/(10−1 L)=206x10−2 g/L=2,06 g/L
2016-09-08