Estamos familiarizados com, por exemplo, termómetros: sabemos (quase) todos que são instrumentos com que medimos a temperatura; e os instrumentos mais comuns e conhecidos para a medição da temperatura são os termómetros clínicos que quase todos temos em casa para a medição da temperatura corporal, nossa e dos nossos familiares, na eventualidade de disfunções da saúde, nomeadamente das que se revelem através de sintomas como a febre.
O termo, ou palavra, “termómetro” tem a mesma raiz de, por exemplo, “térmico”, que toda a gente sabe que está relacionado com “temperatura”*. E, relacionadas com temperatura, estão as noções e a perceção de “frio” e de “calor”, aparentemente sem ambiguidade, em geral.
Mas muitos outros instrumentos e conceitos têm designações que não são comuns, ou não são óbvias:
Anemómetro: medidor de velocidade de fluidos, por exemplo, do vento;
Cinemómetro: instrumento para medir a velocidade a que se desloca um veículo, mas exteriormente ao mesmo veículo;
Disdrómetro: medidor do tamanho das gotas de líquidos produzidas, por exemplo, por pulverizadores/atomizadores;
Enómetro: medidor da percentagem de álcool em alguns líquidos;
Esfigmomanómetro: medidor da pressão (tensão) arterial (sanguínea);
Fotómetro: medidor da intensidade luminosa;
Hipsómetro: é um tipo de altímetro baseado na temperatura de ebulição da água;
Hodómetro/odómetro/podómetro/pedómetro: medidor de distâncias percorridas;
Liquómetro: medidor da percentagem de álcool em licores;
Ondímetro: medidor de radiofrequências;
Paquímetro: o mesmo que “peclise”/”peclisse” (do francês pied à/de coulisse), ou craveira;
Pedómetro: o mesmo que hodómetro;
Pirómetro: medidor de temperaturas (elevadas);
Podómetro: medidor do pé dos animais; também o mesmo que pedómetro; também o mesmo que hodómetro;
Tacómetro: o mesmo que taquímetro, ou conta-rotações;
Taxímetro:Mede o custo de uma corrida de táxi**;
Teodolito: medidor de grandezas geométricas (distância, ângulos, por exemplo), entre outras, na construção civil (estradas, aeroportos), na agricultura;
Udómetro/pluviómetro: medidor da intensidade de queda de chuva;
* Embora o prefixo “termo” tenha origem no termo grego thérme, que significa calor, agora, um medidor de calor é correntemente designado por “calorímetro”.
** O taxímetro, num táxi, indica o que temos de pagar (ao taxista) por uma viagem, ou corrida de táxi. Em geral, o taxímetro combina tempo e distância da corrida para medir o (nosso) custo, ou o preço (do taxista) do transporte.
(A palavra “táxi” parece derivar de “taxímetro”, ao contrário do que geralmente se crê. A palavra de que evoluiu “taxímetro” terá sido “taxo” que significaria taxar, ou pôr preço. Com frequência, a evolução das palavras parece ser feita por vias controversas, e até rocambolescas.)
Todos os resultados de medições são quantidades, mas nem todas as quantidades são medidas, ou resultados de medições.
Algumas quantidades são contagens, outras são, por exemplo, estimativas (umas sérias, outras, nem por isso).
Quem nos dera tudo medir. (Ou não?! Tudo medir, seria o fim da política? O princípio da Tecnocracia?!)
Que políticos, vendedores e personal trainers, nos dão mais conforto? Poder‑se‑ia, conviria e justificar‑se‑ia medir esse conforto**?
Há muitas grandezas – frequentemente confunde‑se grandezas com fenómenos e fenómenos com epifenómenos e todos com simples palavras sem sentido (por equívoco e por ambiguidade) – que hoje são incomensuráveis (sem métricas para a medição), mas que poderão – se convier – ser objeto de medição.
A Arte, isto é, o universo dos produtos artísticos, é incomensurável***.
Medir é uma conveniência e uma necessidade prática. Porém, as práticas tendem a transformar‑se, ou a integrar‑se em teorias.
Quando Newton (refraseando o Livro da Sabedoria) escreveu: "Deus criou tudo por número, peso e medida”, estaria também a pensar em sapatos, camisas e chapéus?!, coisas estritamente artificiais, humanas.
Em geral, “tamanhos” (de roupa, por exemplo, S, XL, XXL) e “quantidades” (entre outras, “copo de três”, “fino”, “galão”, ou “meia de leite”) poderão ser medidas, ou resultados de medições; ou de contagens.
Sapatos 41: “41” é uma medida? E um vestido 36: “36” é uma medida?
O quadrado de 5 m2, (5 m2)2, é 25 m4, mas não sabemos, no quotidiano, o que isto possa ser, o que quantifica? Contudo, o teorema de Gua, uma (espécie de) extensão do teorema de Pitágoras, estabelece que, num tetraedro retângulo – corte um canto de um cubo e o que retira é um tetraedro retângulo –, a soma dos quadrados das áreas das faces constituídas pelos três triângulos retângulos, é igual ao quadrado da área da face recém cortada restante (do tetraedro).
Na “prática”, cinco laranjas não são nunca “iguais” a outras cinco laranjas: todas as laranjas diferem entre si como diferem entre si as maçãs, as nêsperas e as castanhas: diferem, por exemplo, na forma, na massa e no calibre. Todavia, 2 laranjas+3 laranjas são 5 laranjas, mesmo sendo todas diferentes!
Qualquer operação matemática será correta enquanto respeitar as regras (matemáticas), embora, frequentemente, muitos de nós não saibamos atribuir um significado físico a essa operação (matemática).
Quando representamos um número complexo, c, por c=a+bi, em que i=(–1)1/2, estaremos a somar duas coisas distintas? Ou, é só uma representação conveniente?!
* Tudo é número?!: e o amor; e a amizade; e a felicidade; e a justiça; …?! Só as coisas palpáveis ”seriam número”? Aparentemente, só na Natureza valeria este postulado, melhor, axioma. Todavia, querendo, podemos pôr número(s) em tudo!
** A quantidade de seguidores (votantes, compradores, prosélitos) poderia ser uma medida desse conforto?
*** O que uns pagam e outros recebem pelas obras artísticas não será algum tipo de “medida” na Arte?! É pelo menos o resultado de uma métrica (embora variável e arbitrária).
De qualquer modo, a Arte, vista pelos artistas, é uma manifestação superior da natureza e mente humanas, e esta conceção, aparentemente, põe os artistas, principalmente os que veiculam estas afirmações, no topo dos humanos privilegiados – ainda que, muitos, com frequência, não consigam, por si sós, prover o seu sustento.
Medir tem custos. Qualquer atividade, nos processos de produção (de artefactos e de serviços), tem custos. Nulos (grátis), às vezes, só os preços: ofertas, borlas e brindes. Os custos nunca são nulos. (“A saúde não tem preço”, porque não está à venda; mas tem custos – e que custos! E de quem?!)
Há vários recursos e fatores envolvidos nos processos metrológicos: instalações próprias ou específicas para a medição (laboratórios e bancadas de controlo metrológico, na indústria); instrumentos (processo de preparação da aquisição, aquisição, utilização, manutenção e calibração, entre outros); medidores/metrologistas (processo de admissão, formação, salários, por exemplo); métodos (informação, procedimentos, manutenção e validação) e mais alguns outros fatores (controlo ambiental do espaço de medição, por exemplo) que não são gratuitos e que acrescem, entre outros, aos custos de fabrico (dos produtos medidos).
Os instrumentos têm custos de aquisição, de utilização, de manutenção, de calibração e de eventuais reparações. E todos os outros fatores, direta ou indiretamente envolvidos nos processos metrológicos, acarretam custos: o ambiente de um laboratório, ainda que industrial, tem de ser fisicamente controlado, em geral, pelo menos quanto à humidade e quanto à temperatura.
Onde há necessidade e utilização de recursos, é fundamental a sua (correta) gestão com vista à eficácia (metrológica) e à eficiência económica* do(s) objetivo(s) do processo de medição. (A gestão consiste na consideração e comparação de diferentes opções para a consecução de um objetivo.)
Cada sistema metrológico específico, do laboratório metrológico de uma empresa ao Subsistema de Metrologia (por exemplo, do IPQ – Instituto Português da Qualidade), necessita de gestão própria, adequada e conveniente.
Há recursos físicos, humanos, informacionais, entre outros, a combinar e a interagir, do modo mais eficiente possível, seja pela eficiência económica, seja pela eficiência qualitativa, ou outra. Por exemplo, é necessário manter registos, instrumento a instrumento, sobre caraterísticas, reparações de avarias, calibrações, afinações ou ajustes, entre outros processos em que cada instrumento esteve envolvido.
Medir tem custos** não despiciendos.
* Porque medir com micrómetro de interiores – um instrumento caro – se um paquímetro comum – um instrumento barato – puder ser usado para medir o diâmetro de um furo?
** Há quem diga – brincando!? – que a medição (e a Metrologia) não acrescenta valor, por exemplo, a um artefacto (industrial). Todavia, há um valor económico relacionado com um fator incorpóreo associado ao objeto medido que a medição introduz e que não existe no produto não medido, ou não verificado: com a medição determinamos se o artefacto tem (ou não) as medidas certas, as medidas necessárias, as dimensões especificadas em projeto. A verificação metrológica incorpora segurança na utilização do artefacto medido.
Entretanto, poder‑se‑ia evitar a medição como operação autónoma se fosse possível integrar o controlo metrológico (necessário) automático nas fases relevantes da manufatura.
O tempo é, aparentemente, a grandeza física* mais manipulável e mais manipulada entre as grandezas físicas: há diferentes “anos” (ano astronómico, ano económico e ano escolar, por exemplo), diversos tamanhos de “meses” (de 28, 29, 30 e 31 dias) e variados “calendários” (ocidental, judeu e muçulmano, entre outros).
Desde o “tempo relativo”, ao “tempo psicológico”; do “tempo da justiça” ao “tempo histórico”, sem esquecer o “momento”, o “instante” e o “segundinho”, há um número incontável de “tempos” e de “unidades de tempo”. (Einstein parece ter chegado a dizer que o tempo é uma ilusão, não existe. Contudo, mais hodiernamente, parece aumentar o número dos que acreditam na seta do tempo, isto é, que o tempo tem um só sentido e que é irreversível.)
Com frequência, ouvimos uns dizerem que “time is money” – tempo é dinheiro – e ouvimos outros contraporem que “Deus nos dá o tempo de graça”.
(Antigamente, havia o dia “de sol a sol”, uma unidade consistente nos termos, mas metrologicamente variável, inconsistente na substância.)
Um ano tem dois semestres, e, em geral, os calendários universitários portugueses também têm dois semestres, apesar das férias do Natal, das da Páscoa e das “férias grandes”, entre outras folgas, feriados, pontes (dias úteis entre feriados, e feriados e fins de semana) e outros períodos e intervalos.
O tempo efetivo dos dois semestres nas universidades portuguesas – cada ano tem dois semestres! – é mais curto do que, por exemplo, o de três trimestres (cada ano tem quatro trimestres!) de muitas universidades estrangeiras.
E cada ano letivo dos ensinos primário e secundário tem três “períodos”, que parecem ser três trimestres. (Estes períodos são balizados por celebrações importantes: o Natal, entre o primeiro e o segundo períodos, e a Páscoa, entre o segundo e o terceiro períodos.)
(Assalta‑nos por vezes o receio de que, nesta miscelânea confusa, não é só a falta de rigor que campeia, mas também a falta de seriedade, tudo a coberto da tradição – paragem no tempo? – que tarda em mudar.)
O termo “ano” não é consistente, e corresponde a vários conceitos: ano civil (com anos comuns e anos bissextos); ano letivo; ano judicial; ano fiscal; ano astronómico; ano lunar, entre outros “anos”; quer pelo início e pelo fim de cada período, ou unidade, quer pela duração dos mesmos.
Também costuma haver ambiguidade, por exemplo, nas quinzenas e nas semanas; para não falar dos “instantinhos”, dos “minutinhos” e dos “segundinhos”.
As quarentenas já não têm quarenta dias (apesar da manutenção da designação), podendo aplicar-se praticamente a qualquer período de algum tipo de confinamento, restrição ou constrangimento.
Em geral, quando se fala de “século” não são exatamente cem (100) anos; como quando se fala de decénio, ou de milénio: estes termos designam valores indicativos, ou simbólicos, isto é, valores aproximados a dez anos (decénio), cem anos (século), e mil anos (milénio).
* “O tempo é o modo como Deus evita que as coisas aconteçam todas simultaneamente”, grafito de um anónimo, citado por John Barrow.
Mesmo em termos estritamente físicos, os cientistas (mesmo enquanto cientistas!) não se entendem uns com os outros – nem a si próprios! – quanto à natureza do tempo.