O “problema da medição” parece ser um problema de natureza (muito) especial em Mecânica Quântica. Em Mecânica ou Física Quânticas, (só) quando se faz medições “colapsa a função de onda de Shrödinger”, e fica natural e fisicamente determinado o valor da grandeza que se quer conhecer*.
Antes da medição, ou até antes de simples observação, a realidade (quântica) é confusa, e natural e realmente entrelaçada e indefinida
A medição, para a Física Quântica, seria uma espécie de “passagem do Rubicão”: medir, em particular, e observar, em geral, determina a entidade ou grandeza que se estuda. (Isto é absolutamente diferente daquilo a que estamos/estávamos habituados. A alguns, isto poderá fazer lembrar o postulado de S. Tomé:ver para crer, ou mais adequadamente, ver – observar – para definir, desentrelaçar e determinar.
“Medir”, em particular medir um comprimento, parece a coisa, o processo e a operação mais banal que se possa imaginar**.
“Medir” parece – e é – coisa simples e, geralmente, fácil, até começarmos a fazer perguntas e a não obter respostas, ou a obter respostas não coincidentes, respostas não consistentes, ou não conclusivas***.
“Medir” também é coisa séria: a prática da medição, a nível da educação elementar e básica, é proporcionada aos petizes nos primeiros anos de escolaridade; e, a nível avançado, geral e abstrato, o ensino da medição é feito, entre outras áreas, na “Teoria da Medida” (coisa que se dispensa em Tecnologia Metrológica).
O ensaio de Durkheim “O Suicídio”, um estudo de taxas de suicídio entre comunidades católicas e comunidades protestantes, é considerado por muitos como um trabalho fundacional da Sociologia, pelo modo consistente e sobretudo quantificado – contagens, medidas e percentagens – da análise e do estudo.
E o número de “gostos”, nas redes sociais, mede o quê?
* Só quando se abre a caixa e se observa “o gato de Shrödinger” é que fica determinada a morte ou a vida do “bichano”. (Coisa em que, parece, o próprio Shrödinger não acreditava. Contudo, a Física Quântica seria inapropriada para tratar de gatos e outros objetos macroscópicos.)
(Modernamente, mesmo os nominalmente grandes cientistas, alinhados com a novel língua ideológica, ou novilíngua política e socialmente corretas, não falam de gato morto/vivo, mas de gato dormente/acordado.)
Não só para gente comum, mas também para cientistas da especialidade, é difícil de aceitar ou acreditar que a realidade, ainda que quântica, só fica determinada quando é observada, incluindo quando é medida. Para a realidade não quântica, em especial a macroscópica, parece não haver dúvidas: por exemplo, só tropeçamos em pedras que não observamos, que não vemos; as que vemos, evitamo‑las.
** Anaximandro [610 a.C. – 546 a.C.], grego, discípulo de Tales [623 (?) a.C. – 548 (?) a.C.], geógrafo, matemático, político, astrónomo, filósofo (entre outras especialidades da terminologia atual), terá sido – tanto quanto se sabe – o primeiro a introduzir – sem pruridos filosóficos – a noção (e uma técnica) de medição do tempo, quando, com o Sol à vista, e com uma simples vara espetada no chão, se pôs a medi‑lo (o tempo), medindo a sombra da vara.
*** Medição – Processo de obtenção experimental de um ou mais valores que podem ser razoavelmente atribuídos a uma grandeza. [VIM 2012]
Geralmente, as caixas‑negras, ou caixas‑pretas – registos, arquivos e depósitos de medidas –, usadas, por exemplo, nos aviões*, não são, nem estão pretas, ou negras. Parece que nunca são pretas – são de cores vivas!
(Entre outras, há também as “caixinhas‑pretas” que medem quase tudo: na água, nos pântanos, na comida, no lixo, …)
Caixa‑preta é também a designação que em Engenharia de Sistemas, entre outras engenharias, se dá a um símbolo, ou bloco (um retângulo onde o que se explicita é somente o que entra e o que sai), num diagrama de blocos, ou grafismo, que descreve, identifica e caracteriza um processo.
O “bloco” identifica uma operação, ou parte do processo, que não é detalhada, ou discriminada, nem “caixa‑preta” descrita nesse mesmo diagrama.
Um “bloco” “caixa‑preta” é um símbolo simples (geralmente um retângulo), numa estrutura, arranjo, ou configuração de símbolos, que encerra ou resume (por conveniência) um processo ou conjunto de processos de que representamos, de modo simplificado, sucinto e simbólico, no conjunto de fluxos, somente o que entra e o que sai (no e do “bloco”, ou retângulo).
As caixas‑pretas – por exemplo, dos aviões – são dispositivos materiais que estão cheias de medidas e outros dados que são acessíveis em condições e circunstâncias especiais geralmente em tempo diferido.
Imaginamos que estão cheias de medidas, todas as medidas que, quando lidas, revelariam tudo!
Na verdade, terão coisas como registos de altitudes, velocidades, estado dos ambientes exteriores e interiores, temperaturas, pressões, gravação de vozes, entre outras grandezas, fenómenos e factos (fatos, em brasileiro; os fatos portugueses são ternos em brasileiro), bem como outros dados que poderão não ser medidas, como, por exemplo, conversas, descrições e outros registos.
Frequentemente, as caixas‑pretas, como outras coleções de dados, teriam respostas para tudo, menos para algumas dúvidas e perguntas relevantes dos investigadores e a que frequentemente haveria necessidade de responder.
Todavia, hoje, há um grande conjunto de caixas‑pretas, mais ou menos domésticas, ou de consumo, para uso pessoal, laboratorial, ou comercial, por exemplo.
As caixas‑pretas registam somente os valores das grandezas que foram listadas e selecionadas para serem registadas, sem prejuízo dos registos inopinados que a eventual “Inteligência Artificial” lá instalada possa fazer.
Todavia, antes de um acidente, incidente, ou ocorrência grave, não sabemos o que poderá ser mais relevante, ou simplesmente relevante, relativamente às ocorrências indesejadas, ou não esperadas.
* Brevemente, as viaturas automóveis novas integrarão, obrigatoriamente, “caixas‑negras”, com o propósito com que são usadas, por exemplo, nos aviões.
Contudo, desde há muito, muitas viaturas terrestres são depositárias de dispositivos de registo de variadas grandezas, desde os velhos tacógrafos a outros dispositivos mais recentes que, além da localização, permitem recolher vários dados e informação.
Muitas das grandezas relativas ao movimento e localização de viaturas de uma frota são já hoje verificáveis e verificadas à distância, numa central (fixa, ou móvel) que pode seguir, monitorizar e supervisionar – medindo, principalmente – as diferentes viaturas da mesma frota.
Tudo depende de tudo – é da sabedoria do(s) povo(s) e das nações, e, por isso, de (quase) todos. Não com as mesmas intensidade, clareza e convicção.
Num sistema – do “sistema Universo” ao “sistema átomo”, entre um número indeterminável de sistemas –, as alterações em um componente (do sistema) alteram todo o sistema e, por reflexo e ação de retorno (feedback), o próprio componente. (Se tudo depende de tudo, e se “o mundo é feito de mudança”, a medida de amanhã já não será igual à medida de hoje.)
Se os filósofos medissem talvez não filosofassem tanto.
Contudo, a sabedoria comum tem filosofia* sedimentada, tem mito elaborado e erro corrente.
Mas alguns fenómenos dependem mais fortemente de certos fatores do que de outros.
E já sabemos que o bater das asas de uma borboleta no México pode provocar uma tempestade na China, aparentemente, sem necessidade de algo (um fator adicional) potenciar o fenómeno**. Quem diz China, diz Índia, ou em outro qualquer local. (Em geral, chuva no deserto é que não!)
Toda a gente filosofa***, toda a gente tem opinião (de tudo e sobre tudo) e muita gente (em muitos estados/países) tem direito à liberdade de “expressão” (incluindo mentir, ainda que conscientemente).
As medidas – os resultados das medições – poderão anular, subverter ou conflituar com a Filosofia?
Filosofar é fazer perguntas****; medir é dar respostas. Todavia, as respostas de uma – a Metrologia –, em geral, não respondem às perguntas da outra – a Filosofia.
Em geral, é necessário medir para, por exemplo, sabermos que relações, em cada tempo e lugar, são relevantes (a títulos diversos) e merecem atenção.
Os medicamentos, em geral, são tóxicos, perigosos e letais – são frequentes os suicídios e homicídios por toma exagerada de medicamentos. Porém, nas doses certas – com medição –, poderão curar doenças.
* Um filósofo, a quem teria sido perguntado para que serve a Filosofia, teria respondido – mais palavra menos palavra –, que não serve para fazer negócios, mas que poderia ser útil para nos resignarmos com as (eventuais) perdas (nos negócios). (Agora, para isso, para a resignação, temos os especialistas, os psicólogos e outros psis.)
** É como se um piparote numa esfera, que, depois da partida, tivesse um pequeno desvio, impercetível, provocado por um pequeno grão de poeira no chão, que fizesse infletir e desviar a trajetória da mesma esfera de um grande deslocamento, ao fim de um percurso longo.
*** Os filósofos brincam com as palavras como as crianças com bonecas. [Einstein]
Nada é tão absurdo que não possa ser dito por um filósofo. [Cícero]
**** Há quem defina “filósofo” como alguém com o talento de, para qualquer solução, arranjar uma dúzia de problemas.
A “velocidade média” parece ser, e é – sabendo nós – um conceito simples; determiná‑la poderá não ser fácil se, por exemplo, tivermos de procurar, recolher ou elaborar dados para a calcular. Contudo, nas “escolas” onde poderão ser abordados estes problemas, eles são apresentados prontos‑a‑calcular, apresentando‑se (só) o passo final da determinação*.
Apesar de ser um conceito básico, é fácil complicá‑lo** – sobretudo por ignorância – com outros conceitos da família das médias***, ou conceitosinventados na hora (por quem não sabe).
Todavia, pode ainda haver confusão entre “velocidade média” e “média de velocidades” ****.
* Um carro passa no ponto P às 17 h 3 min 24 s, e no ponto Q, distante 10 km de P, às 17 h 7 min 12 s.
Por definição, a velocidade média calcula‑se dividindo a distância percorrida pelo móvel (10 km) pelo tempo do percurso (17 h 7 min 12 s – 17 h 3 min 24 s = 3 min 48 s ≈ 0,06333 h – arredondamento ao centésimo milésimo da hora): 10 km/0,06333 h ≈ 157,9 km/h – arredondamento ao décimo do quilómetro por hora, uma velocidade proibida em Portugal!); e já está! (Mas que trabalheira!, mesmo recorrendo à calculadora.)
Se estivermos a conduzir – dirigir, no Brasil – podemos observar o hodómetro e o relógio em um determinado instante ou ponto – anotando os respetivos valores – e, atentos ao hodómetro, anotar o tempo dado pelo relógio quando perfazemos dez quilómetros (10 km) após a primeira anotação: com a diferença de tempos e a distância percorrida podemos calcular a velocidade média.
** Recentemente, em Portugal, após a instalação e colocação em funcionamento de radares para a monitorização da velocidade média dos veículos, e de putativas contraordenações de alguns condutores, constatou‑se que haveria erros de medição, ou de cálculo, que ilegitimariam aquelas (contraordenações).
*** Em Estatística, as várias médias e algumas outras medidas estatísticas são globalmente designadas por “medidas de tendência central”.
Num grande número de casos, por exemplo, nos media, ou média, ou órgãos de comunicação social, nem a designação costuma ser correta: por exemplo, é corrente a “mediana” dos salários – entre outras medianas – ser designada, ou confundida com salário médio.
**** O leitor percorre 300 km de carro:faz 150 km à velocidade (constante) de 100 km/h em 1,5 h (1 h 30 min); os restantes 150 km fá-los a 150 km/h, levando 1 h.
Se calcular a média (aritmética) das velocidades para aqueles percursos idênticos (150 km) encontra: (100 km/h+150 km/h)/2=125 km/h. Porém, considerando o total dos 300 km percorridos e o tempo gasto, 2,5 h (2 h 30 min), obtemos a seguinte velocidade média: 300 km/2,5 h=120 km/h. Ora, 120 km/h não são 125 km/h!