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Medidas e medições para todos

Crónicas de reflexão sobre medidas e medições. Histórias quase banais sobre temas metrológicos. Ignorância, erros e menosprezo metrológicos correntes.

Medidas e medições para todos

Crónicas de reflexão sobre medidas e medições. Histórias quase banais sobre temas metrológicos. Ignorância, erros e menosprezo metrológicos correntes.

DICIONÁRIO TÉCNICO DE METROLOGIA

DICIONÁRIO TÉCNICO DE METROLOGIA

Vocabulário Internacional de Metrologia

 

Richard Feynman* teria dito que as palavras não são ciência. Todavia, sem palavras dificilmente haveria Ciência, ou outros domínios do conhecimento humano explícito e transmissível.

E, segundo Lineu**:Quem não conhece os nomes das coisas, nada sabe do assunto.

A ciência, a tecnologia e outros saberes e competências fazem-se também com palavras, palavras (muito ou pouco) consistentes, convencionais e geralmente aceites.

Sem referências comuns (e normas) não nos entendemos, não conseguimos colaborar e não progredimos.

O VIM – Vocabulário Internacional de Metrologia – é uma espécie de dicionário técnico internacional de termos metrológicos.

Ao mesmo tempo, ele (o VIM) desambigua e precisa conceitos que correspondem a algumas noções e termos pouco claros dos metrólogos, dos metrologistas, dos medidores e dos outros técnicos do domínio da Metrologia, sobretudo da área da Tecnologia Metrológica.

(Em muitas áreas, as coisas são criadas com a invenção dos termos, descritivos, abstratos, virtuais e frequentemente obscuros, vagos e ambíguos. E muitos falantes usam a mesma palavra com a liberdade e o à-vontade que a desfaçatez proporciona e a ignorância justifica. De resto, na Era em que vivemos, as palavras e as narrativas, a(o) gosto dos narradores e seguidores, é que são relevantes e reais.)

Para qualquer área do conhecimento é importante haver e serem conhecidos os nomes das coisas. Além disso, é necessário que os termos estejam definidos sem ambiguidade, ou com a menor ambiguidade possível, ou, pelo menos, desambiguados.

O VIM***, nomeadamente o VIM 2012, versão em língua portuguesa, é uma versão luso-brasileira da versão, entre outros, do Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM), comum e corrente até há pouco tempo.

 

* Richard Feynman [1918 – 1988], físico americano, um dos criadores da Eletrodinâmica Quântica, nobelizado em 1965; ficou conhecido por sugestões, por frases lapidares e pela explicação pública (televisionada) da explosão do vaivém Challenger, em 1986, em que morreram sete astronautas e que provocou um compasso de espera e uma viragem nos programas da NASA, em particular, e nos da exploração espacial americana, em geral.

 

** Foi Lineu (Carl von Linné, latinizado para Carolus Linnaeus) [1707 – 1778], o sueco criador da taxonomia – e de um quadro para a denominação dos seres vivos –, que contribuiu significativamente para a classificação dos mesmos (seres vivos), e que disse que quem não sabe os nomes das coisas, nada sabe sobre o assunto.

 

*** A versão anterior do VIM 2012 foi editada em 2008 e uma versão corrigida desta edição surgiu no ano 2012 (VIM 3).

A versão mais recente do VIM, VIM 4, tem uma variante apresentada em 2021: https://www.bipm.org/documents/20126/54295284/VIM4_CD_210111c.pdf/a57419b7-790f-2cca-f7c9-25d54d049bf6

 

2024-04-25

METROLOGIA E ÉTICA

METROLOGIA E ÉTICA

Faltar à ética nas medições

 

Talvez os casos mais conhecidos da falta de ética – ou, falta de moral, um degrau acima da ética – em Metrologia sejam os que deram origem à expressão “dois pesos e duas medidas” *, hoje adaptada a muitos domínios não metrológicos: na política, gestão e justiça, entre muitas outras áreas, com o desconhecimento da origem da mesma expressão.

(Na verdade não há relação entre Ética e Metrologia, mas entre metrólogos, ou medidores e medições; como não há relação entre Ética e Física, só os físicos poderão faltar à Ética, por exemplo, nas medições.)

Todavia, a Metrologia poderá ajudar a Ética; poderá contribuir, por exemplo, para a erradicação, ou pelo menos a mitigação do dolo, da burla, do esbulho.

Aparentemente, existe ainda uma crença, ou uma desconfiança subliminar para se olhar os comerciantes como potenciais agentes de empolamento das medidas e nas medições, quando vendem **.

As medições têm incertezas, mas exagerá-las, aumentando‑as, para tirar disso proveito, é que não será correto nem aceitável!

Consumir bebidas alcoólicas e conduzir na via pública poderá criar circunstâncias (legais) de crime, de transgressão, ou de pura inconsequência: depende das medições da alcoolemia e esta depende, entre outros fatores, das quantidades e da distância temporal a que foram consumidas e ainda, aparentemente, do consumo de substâncias que mascarariam e ludibriariam os medidores.

 

* Com frequência, a explicação da expressão “dois pesos e duas medidas” é feita por especialistas e criativos em linguística e terminologia – diletantes quase sempre muito afoitos.

Algumas explicações/interpretações destes explicadores, intérpretes e pedagogos são até – benza‑os deus! – humorísticas.

Quando os normativos estatais reguladores (dos processos metrológicos) eram poucos, vagos e genéricos, e a supervisão metrológica oficial apenas um pouco mais do que inexistente, os comerciantes assumiam liberdades indevidas (a natureza humana tem horror ao vazio): sendo eles a medir – ou a  pesar –, mediam por defeito (abaixo do valor real) o que compravam (principalmente a produtores locais que não tinham instrumentos metrológicos), e mediam por excesso o que vendiam. Literalmente, tinham duas medidas – por exemplo, duas réguas e duas vasilhas‑padrão –, diferentes entre si, e dois pesos – dois tipos de massas marcadas –, ou, segundo a linguagem corrente e popular, “dois pesos e duas medidas”.

 

** A propósito do abastecimento de combustível automóvel em estações de serviço, relatavam alguns média: “Após o reinício do contador da bomba, e antes ainda de ser pressionado o manípulo do equipamento, o contador alterava automaticamente e iniciava a contagem com valores acima de zero, revela a ASAE em comunicado. Em alguns casos, revelou a autoridade, a contagem do pagamento iniciava-se nos 5 ou 6 cêntimos, antes de qualquer abastecimento real.” (Notícias desta natureza são recorrentes e até referentes a quantias superiores àquelas.)

Por regra, não são grandes quantias, mas, esta prática levada a cabo consistente e continuamente, poderá constituir uma pequena fortuna (para o vendedor) ao fim de um bom período de tempo (fator escala).

(Dizia um merceeiro, a propósito das subtrações de peso, que, tirando um cabelo a cada cliente poderia fazer para si próprio uma cabeleira farta sem eles o sentirem; já se fosse cada cliente a retirar‑lhe a ele um cabelo, ficaria rapidamente careca.)

 

2024-04-18

SIGNIFICADOS DAS MEDIDAS

SIGNIFICADOS DAS MEDIDAS

Medidas e interpretações

 

Medir não é, em geral, difícil – os novos instrumentos metrológicos estão cheios de inteligência metrológica que dispensa a de muitos medidores. Difícil, com frequência, é confiar nas medidas e no que fazer com as mesmas; como interpretá-las (adequadamente), ou por que (razão) se mediu determinada grandeza.

(Há provavelmente mais instrumentos de medição disponíveis do que os que seriam verdadeiramente necessários.)

A disponibilidade de instrumentos de medição aguça a necessidade de medir.

Para a maior parte das pessoas, poucas medidas, para além do peso, do comprimento e da capacidade/volume (de recipientes), terão significado, ou farão algum sentido.

A leitura do contador de energia elétrica, para muitas pessoas, é a observação e o registo de um simples número, como outro número qualquer. A leitura do contador da água – hidrómetro – parece fazer mais sentido metrológico para mais pessoas do que a leitura do contador da luz.

Em muitas áreas abusa-se das medições. Faz-se medições sem se saber muito bem o que fazer com as medidas; por vezes, as medidas só serviriam para justificar alguma putativa explicação (de algum processo). Com frequência, inventa-se uma interpretação para as medidas entretanto obtidas; mesmo entre cientistas.

Em algumas “medicinas”, e outras disciplinas (mais ou menos) humanas, há medições e medidas a rodos: medir segurança, credibilidade e autoridade – quem ousa pôr em causa uma medida*? –, embora se possa duvidar de muitas interpretações das mesmas medidas.

Até os astrólogos fazem medições**! E os vedores***?!

Frequentemente, em muitas novas áreas da saúde, os instrumentos de medição são, por exemplo, galvanómetros – com designações adequadas – que respondem a (quase) todos os atos, manobras e operações. Faz-se contactos nos dedos, no pulso, mais acima, mais abaixo, mais ao lado e fica-se a conhecer o estado do coração, dos intestinos, do fígado, entre outros órgãos. E os profissionais destas áreas, frequentemente, parecem ser seguros, assertivos e definitivos quanto aos seus diagnósticos e prognósticos.

Contagens, percentagens e estimativas são frequentes nas ciências humanas.

E não é impossível evitar imposturas e os que as aceitam; os impostores encontram muita gente a dar-lhes credibilidade elevada, mesmo que seja uma vez só! Mas, não é necessário que a credibilidade seja elevada, basta que seja razoável: todavia o nível de razoabilidade depende da cultura técnica do consulente, do crente, e das circunstâncias da sua vida: a doença torna-nos mais ansiosos, mais crédulos, mais recetivos.

As medidas são quase sempre objetivas; mas, com frequência, as interpretações das medidas e seus valores são subjetivas.

 

* Podemos pôr em dúvida uma opinião, mas, como contestar uma eventual retórica que usa (e manipula os ouvintes ou leitores com) medidas?

 

** Recomendava um astrólogo, ou alguém a rogo dele:

Através da nossa calculadora é possível calcular o seu signo ascendente. Para isso só necessita saber o local, a data, hora e minuto exatos do seu nascimento.

 

*** A vara do vedor (hidrogeólogo) poderá medir (alguma coisa)? Seria possível pôr instrumento na vara do vedor, ou a vara, num instrumento?!

 

2024-04-11

MEDIR A VELOCIDADE DE UM PROJÉTIL

MEDIR A VELOCIDADE DE UM PROJÉTIL

Medição indireta

 

A medição da velocidade de um projétil, por exemplo, de uma bala disparada de uma arma de tiro, pode ser feita de modo simples*.

Todavia, coisas aparentemente complicadas poderão ser resolvidas facilmente. (É na resolução fácil de problemas difíceis que se distinguem os génios e os talentos.)

Determinar, ou medir a velocidade de uma bala disparada de uma arma poderá parecer coisa difícil. Contudo, poderá não ser muito complicado.

Por exemplo, podemos usar um pedaço de madeira, ou cepo, de forma, tamanho e massa convenientes**, suspenso em modo de pêndulo, e prepará‑lo para receber o impacto de uma bala, ou projétil.

Disparada a bala em direção ao pedaço de madeira no qual vai embater, poder‑se‑á considerar que, aproximadamente, a energia cinética da bala, ½mV2, será transmitida ao pedaço de madeira (pendular) que adquirirá a energia cinética ½Mv2; isto é,

 

½mV2=(½Mv2)=Mgh    (1),

 

onde: 

 

m – massa da bala (medida facilmente);

V – velocidade da bala (a determinar);

M – massa do pedaço de madeira (medida facilmente);

v – velocidade do pedaço de madeira imediatamente após o impacto***;

g – aceleração da gravidade: 9,8 m/s2;

h – elevação do pedaço de madeira, após o choque (medida facilmente).

 

De (1), isto é, de    ½mV2=Mgh

 

resulta:   V=(2m−1Mgh)1/2,

 

onde todas as grandezas (à exceção da grandeza a determinar, V) são conhecidas, ou, facilmente mensuráveis.

 

* “Simples” não é o mesmo que, ou sinónimo de “fácil”. “Simples” é pensar, como Júlio Verne, que para pôr alguém na Lua é só disparar esse alguém com um canhão “potente”, como no circo, na direção do nosso satélite natural. Contudo, como descobriram os projetistas da NASA, e muitos entendidos percebem, não é “fácil” pôr coisas na Lua.

 

** De modo especial, a massa do pedaço de madeira deverá ser bastante maior do que a massa da bala para que, em igualdade do valor da energia cinética, a velocidade do cepo – ou outra grandeza diretamente relacionada com ela – seja facilmente mensurável.

(Convirá ainda, por exemplo, por razões de segurança, evitar materiais que permitam o ressalto da bala.)

 

*** “v” é uma variável de transição que não entra nas medições, mas somente na dedução da expressão final.

 

2024-04-04

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