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Medidas e medições para todos

Crónicas de reflexão sobre medidas e medições. Histórias quase banais sobre temas metrológicos. Ignorância, erros e menosprezo metrológicos correntes.

Medidas e medições para todos

Crónicas de reflexão sobre medidas e medições. Histórias quase banais sobre temas metrológicos. Ignorância, erros e menosprezo metrológicos correntes.

PASSOS E PALMOS

PASSOS E PALMOS

Medir a palmo é preferível a não medir

 

Medir a passo, ou a palmo – com as mãos e as pernas com que vivemos; mas com designações de unidades de base e bitolas domésticas e de recurso com referências metrológicas históricas, técnicas e legais sérias – é um arremedo metrológico, é um substituto grosseiro, privado, caseiro, de uma medição aceitável*.

Medir a palmo, ou a passo, é uma abordagem razoável no jardim – para dispor vasos –, no quintal – para distribuir plantas –, na mesa das refeições – para dispor pratos e alfaias caseiras.

E mais vale medir a palmo, ou a passo, do que não medir.

Passos e palmos, entre nós, não são unidades técnicas, nem legais, e muito menos científicas (como são em alguns países algumas unidades com estas designações). Faltam‑lhes (aos palmos e passos caseiros) objetividade, consistência e referências legítimas.

Podemos recusar, em Portugal, comercial e publicamente, transações feitas com unidades não legais, como “passos”, “galões” e “libras”, embora legais, ou correntes, em outros países. Entre nós, portugueses, as unidades legais são as unidades SI e mais algumas – estabelecidas pelo Estado Português –, quer relativas a grandezas tecnológicas, quer, por exemplo, unidades derivadas das unidades SI.

Os antigos falavam de sete palmos de terra quando se referiam à profundidade de uma sepultura, embora os coveiros não tivessem todos o mesmo palmo; contudo, de coveiro para coveiro não vai palmo de urso. (Outros, noutros países, para a mesma finalidade, usam a unidade nas sepulturas – six feet under.)

É melhor fazer uma medição grosseira do que não fazer medição alguma.

Não é crime, não é um delito, nem é uma irregularidade, em privado, medir a quantidade de feijão com uma taça, o vinho com um jarro, e o azeite com a almotolia. Em privado, poder-se-ia trocar tigelas de marmelada por frascos de geleia (ou compota, para alinhar com sugestões oficiais do tempo de pandemia); sacas de batatas por cestos de cebolas; caixas de laranjas por baldes de maçãs, embora com prejuízo do Estado que deixaria de receber IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado).

Não é proibido transacionar grão-de-bico ao alqueire, vinho ao almude, e batatas à arroba, ainda que estas unidades, quando estavam em vigor, não tivessem um valor uniforme no país, nem que estivesse garantida a autenticidade – e a rastreabilidade metrológica – da cópia da unidade (“medida”) usada pelo vendedor.

No comércio (corrente) – não clandestino – podemos exigir que a medida de capacidade seja o litro (L, embora não seja unidade SI, ainda que equivalente ao decímetro cúbico, dm3), ou os seus múltiplos e submúltiplos; que o peso – a massa – seja quantificado ao quilograma (kg), ou os seus múltiplos e submúltiplos decimais; e os tecidos sejam medidos ao metro (m), ou os seus múltiplos e submúltiplos decimais, entre outras unidades para outras grandezas.

 

* Pelo menos o passo, ainda é uma unidade de comprimento corrente em algumas regiões; não o passo de cada cidadão, ou de um cidadão qualquer, mas um passo convencionado, legitimado e normalizado há algum tempo, em algumas comunidades.

 

2023-01-26

METROLOGIA QUÍMICA

METROLOGIA QUÍMICA

Parafernália química

 

Os “químicos” (“engenheiros químicos” e outros profissionais da área da Química) ter‑se‑ão dado conta (justificada e consistentemente) da natureza granular, ou atomística, da matéria, antes dos “físicos”.

O átomo era então uma unidade pressentida, mas ainda não conhecida, e seria a menor porção indivisível da matéria, adotada pelos químicos, antes da generalidade dos físicos se convencer de tal*.

Nas áreas da “química prática” são usados, entre outros instrumentos metrológicos, por exemplo, termómetros, balanças, relógios e pipetas graduadas.

E são várias as grandezas manuseadas no domínio da “Química”: entre outras, o potencial de hidrogénio (pH, acidez/alcalinidade), a massa molar e o volume.

Há até uma unidade de base SI (entre as sete unidades de base**), aparentemente dispensável (como unidade de base), que os físicos (quase) não usam: a mole*** (o mol, em brasileiro), símbolo (SI), mol.

A mole é uma unidade facilitadora (por exemplo, em Química, Engenharia Química e Tecnologia Química), mas dispensável, como dispensáveis seriam a “dúzia” (na padaria), a “tonelada” (na fundição) e a “pipa” (na adega).

Também é frequente a “unidade (unificada) de massa atómica”, símbolo, u, que, por convenção, equivale a um doze avos (1/12) da massa atómica do “carbono‑12” (12C). (1 u é igual a 1,660 539 06610−24 g, ou, 1,660 539 06610−27 kg)

(Esta unidade – unidade de massa atómica –, símbolo, u, também é designada por dalton e representada pelo símbolo Da, embora esta designação e este símbolo estejam em desuso.)

Frequentemente, também encontramos a unidade “parte por milhão”, símbolo, ppm, usada, por exemplo, na Química e na Homeopatia, e que é aparentada com a “percentagem” (%) e com a “permilagem” (‰). Por exemplo, 1 ppm poderia ser 1 g/1 Mg (1 g/1 ton) ou, dividindo por mil o numerador e o denominador, 1 mg/ 1 kg, ou, voltando a dividir por mil o novo numerador e o novo denominador, 1 µg/1 g.

E, por extensão, há ainda a “parte do bilião”, símbolo, ppb, e, entre outras, a “parte por trilião”, símbolo, ppt.

 

* Ludwig Eduard Boltzmann [1844–1906], físico austríaco, defensor da teoria atómica, um dos fundadores da Mecânica Estatística, e que também fez contribuições relevantes para a Termodinâmica – a constante de Boltzmann é um invariante importante da Termodinâmica cuja denominação é uma homenagem de reconhecimento do trabalho deste cientista –, ter‑se‑á suicidado, entre outros motivos, alegadamente, pelo menosprezo a que o votaram alguns dos seus pares, pela sua defesa da constituição atómica da matéria.   

 

** São sete as unidades de base SI: o metro (m), o quilograma (kg), o segundo (s), a mole (mol), o ampere/ampère (A), o kelvin (K) e a candela (cd).

 

*** Uma mole (um mol, em brasileiro), símbolo, mol, é a quantidade de matéria (elemento químico, ou substância) correspondente a 6,022 140 76 × 1023 moléculas (de substância), ou átomos (de elemento químico). Este número (6,022 140 76 × 1023) é designado “número (ou constante) de Avogadro”.

 

2023-01-19

MEDIR O SOM

MEDIR O SOM

Sentir o som

 

Os sons são sensações comuns a muitos animais.

Os sons resultam das vibrações mecânicas dos/nos corpos materiais sólidos, líquidos ou gasosos; sem meio material não há som, nem transmissão do mesmo.

Estamos (os que ouvem, os que não são surdos) mergulhados em sons, no som. Do som contínuo do tráfego automóvel, para os citadinos, aos sons do vento e da água em movimento, entre outros sons mais específicos.

Embora os sons simultâneos num meio se misturem, eles podem ser separados por dispositivos apropriados e serem sentidos como autónomos por nós.

Todavia, não ouvimos os sons todos: indicativamente, não ouvimos os infrassons, nem os ultrassons: ouvimos os sons de frequência entre 20 Hz e 20 kHz*. (1 Hz é o mesmo que 1 ciclo/s, 1/s, s−1.)

Comunicamos fundamental, básica e predominantemente através do som (da voz) ainda que, às vezes, através de sistemas físicos interpostos, como, por exemplo, os sistemas telefónicos. (Nos sistemas telefónicos, o som, um fenómeno ondulatório mecânico, é transformado num fenómeno eletromagnético, que se propaga à velocidade das ondas eletromagnéticas, para melhor e mais rápida transmissão à distância, e, por fim, transformado de novo em fenómeno mecânico, em vibração mecânica, para sensibilizar o ouvido do destinatário.)

O (fenómeno) som apresenta um grande número de propriedades** (mensuráveis) constituindo algumas destas as características distintivas de alguns processos, entidades ou fenómenos***.

Ao contrário da luz, que não dobra todas as esquinas – mas nem todas as ondas eletromagnéticas! –, sentimos o som em qualquer posição, ou orientação dos ouvidos, independentemente da posição da fonte.

E o espetro sonoro inclui sons que os humanos não sentem, ou percebem****.

Ouvimos falar de sonómetros – instrumentos que medem a intensidade, a potência, a pressão sonora (relativa) – frequentemente quando alguém se queixa de ruído.

Há uma escala de velocidades, nomeadamente a escala Mach, ou velocidade Mach, que tem a velocidade do som como referência.

 

* Quando ouvimos uma emissora de rádio sintonizada na posição, por exemplo, de 100 MHz, ouvimos uma estação que transmite a 100 MHz no campo eletromagnético, mas usamos um dispositivo (um telemóvel, por exemplo) que a reproduz em ondas sonoras na banda “20 Hz – 20 kHz”.

 

** Há um número infinito (num intervalo finito) de velocidades do som; esta velocidade depende do meio onde se propaga, e, nos meios gasosos, depende ainda, por exemplo, da pressão, da temperatura e da composição do meio.

A velocidade do som que serve de referência à escala Mach é uma velocidade convencionada, uma velocidade fixa, uma velocidade de referência do som no ar (em geral, 340 m/s).

 

*** O som da tosse – um som específico de algumas tosses – poderia revelar se alguém está doente com (a) COVID-19, dizem alguns especialistas.

 

**** Há duas palavras – audiometria e audimetria – a que, com frequência, são atribuídos significados muito diferentes: a primeira refere-se à determinação da acuidade auditiva de um indivíduo; a segunda diz respeito à avaliação das audiências em rádios e televisões.

 

2023-01-12

TERMOS METROLÓGICOS OBSOLETOS

TERMOS METROLÓGICOS OBSOLETOS

Conservar ou deitar fora

 

Muitas, muitas palavras são muito antigas; muitas nomeiam coisas e causas que já não existem, ou que (até) nunca existiram, ou que têm cada vez menos crentes, menos apoiantes e menos seguidores* – termos metrológicos incluídos. (A utilidade das palavras varia com o tempo.)

Muitos, muitos termos metrológicos estão (tecnicamente) em desuso: já não são usados por grande parte dos profissionais e dos connaisseurs de Metrologia.

Muitos destes termos foram banidos dos léxicos, dicionários técnicos e até, parcial e eventualmente, da terminologia metrológica popular.

Todavia, alguns termos são banidos (por autoridades específicas) – mas não extintos – para regressarem a prazo mais ou menos longo.

Muitos termos (metrológicos) banidos, em desuso, ou obsoletos referem-se a unidades (“quartilho”, entre muitos outros), instrumentos (medidores de líquidos diversos das antigas mercearias, por exemplo) e técnicas (calibração/aferição da unidade/vasilha/padrão litro).

Algumas palavras de âmbito metrológico, além de velhas (antigas), são obsoletas (em desuso).

Não podemos deitar fora as palavras velhas (como?, e para onde?, perguntaria alguém distraído ou divertido); elas vão sendo usadas por cada vez menos pessoas e vão rareando os textos que as contêm, ou que as citam; até deixarem de ser efetivamente usadas e referidas.

Muitas palavras velhas (ainda defendidas, por exemplo, pelos eruditos – ela própria, a palavra  erudito(s) –, aparentemente uma palavra velha, nesta era de internet e de tantas outras fontes instantâneas de informação e denegação da mesma) ajudam a criar e a manter equívocos, ambiguidades e erros.

Muitos termos usados na metrologia popular – mas, não só – não constam (evidentemente) no VIM (Vocabulário Internacional de Metrologia**).

Termos metrológicos citados na Bíblia não são reconhecidos pela esmagadora maioria dos leitores (mesmo da Bíblia); já não são usados, e, em geral, há dúvidas e desconhecimento completo do seu significado, definição e caracterização.

No mar, correntemente, já não são usados astrolábios, nem quadrantes, nem balestilhas.

Quase ninguém sabe a que comprimento corresponderia (com exatidão) a milha romana; e as correspondências das “milhas romanas” que ainda são referidas são só conhecidas de alguns.

 

* Sonhamos, idealizamos e deliramos, principalmente com imagens, com palavras e com números; e comunicamo-los: uns pegam, outros, não.

Aparentemente, já não há “profetas” (mas há visionários, astrólogos, bruxos, gurus e adivinhos), apesar de uma parcela importante de economistas (“aqueles que já previram nove das últimas cinco crises económicas”), e outros sábios e especialistas, profetizarem o que já aconteceu, ou a preverem o que não acontecerá. (Os oráculos, sabiamente, eram ambíguos: não adivinhavam, mas estimulavam, sugeriam ou incitavam. Alguns oráculos ficaram célebres porque os famosos que os ouviram, crédulos, porfiaram valentemente transformando as predições em realidades, favoráveis ou desfavoráveis, às vezes, com mortes de muitos milhares de seres humanos.)

 

** A versão mais recente do VIM foi anunciada em 2021.

 

2023-01-05

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