As métricas metrológicas são objetivas, verificáveis e praticamente inalteráveis; as métricas ad hoc, específicas, ou de circunstância, são provisórias, controversas e alteráveis (por vezes, quase) a gosto.
Na medição do pH, até ao valor 7 mede‑se a acidez; acima de 7 mede‑se … a alcalinidade.
O teste de inteligência – há vários –, o QI, servirá também de teste de estupidez? E abaixo de que valor?
(Um carro com 24 anos é um “carro velho”; com mais um ano, isto é, com 25 anos, ou mais, é “um [carro] clássico”. Em português, os termos “velho” e “clássico” dão diferentes perceções.)
A classificação normalizada da “eficiência energética” de alguns tipos de eletrodomésticos, na Europa, parece ter começado por ser: A, B, C, D, E, F, G. Decorrido algum tempo, passou a ser: A+++, A++, A+, A, B, C, D, E, F, G. Finalmente, com a alteração de alguns critérios e desta representação simbólica, parece estar a valer de novo a classificação inicial: A, B, C, D, E, F, G.
Entre outras, há também, relativamente à unidade “pacote de açúcar”, a variação da quantidade de açúcar nos pacotes do mesmo (açúcar) que as cafeterias fornecem aos bebedores de café*.
As doses, uma referência, uma bitola e um padrão na restauração (restaurantes e similares), não são todas iguais, incluindo num mesmo restaurante, onde observamos flutuações de cliente para cliente e de dia para dia.
Quando, consciente, ou inconscientemente, se deseja reduzir a desigualdade entre os classificados em alguns processos, os rankings têm poucos escalões**; no caso contrário – quando se quer marcar bem as diferenças – predominam as métricas com muitos escalões.
Nos ciclos do ensino básico, em Portugal, as classificações dos alunos têm cinco (5) escalões: 1, 2, 3, 4, e 5 (números inteiros). Nos ciclos mais elevados, as classificações dos alunos vão de zero a vinte, e com decimais: de 0,00 a 20,00. Segundo esta classificação, as notas têm uma resolução, discriminação, ou poder discriminador de 1/2000 e expressam‑se por valores tais como: 7,85; 10,72; 14,60; 18,25***.
* Em Portugal, os pacotes de açúcar, por via de legislação consecutiva, progressiva e progressista, têm vindo a conter diferentes quantidades: já tiveram 10 g a 12 g; de seguida, 8 g a 10 g; depois, 6 g a 8 g e, futuramente irão ter 4 g a 6 g. (Aparentemente, com manutenção do intervalo de incerteza: 2 g)
** Na classificação de casas de restauração (por exemplo, relativamente a preços, serviço e qualidade), na internet, geralmente de uma a cinco estrelas (mas com decimalização das médias!), a Tasquinha do Zé Gordo pode estar classificada com 5 estrelas, mas … com um só votante! (Geralmente, as classificações de estabelecimentos de restauração, na internet, estão quase todas encostadas às “5 estrelas”!)
*** Com esta métrica, está implícito que se consegue discriminar entre, por exemplo, 19,99 e 20,00
Todavia, por exemplo, em universidades anglo-saxónias as classificações têm, mesmo nos escalões superiores, uma menor resolução, ou definição. (Menos discriminadoras: não marcam muito as diferenças. São mais progressistas?)
“Um, dois, três, foi a conta que Deus fez”, é um provérbio popular português.
Aparentemente, o “pequeno”, o “médio” e o “grande” poderiam ser o primeiro nível da quantificação da intensidade, ou do “tamanho” de uma grandeza, ou, mais correntemente, de entidades e conceitos que ainda não são grandezas mensuráveis*, mas hierarquizáveis por tamanho, valor ou intensidade (ainda que aparentes). Contudo, são comuns as diferenças de opinião de diferentes estimadores, avaliando um uma entidade (grandeza) como “grande” e outro avaliando a mesma entidade como, por exemplo, “média”!
Quando se fala de felicidade, com frequência, são citados três escalões: “muito feliz”, “feliz” e “pouco feliz”! Ou variantes como, “felicíssimo”, “feliz”, “infeliz”, ou até desinfeliz, entre outras.
E a morte por doença é frequentemente classificada, por exemplo, nos obituários, segundo três tipos, ou categorias: “doença súbita”, “doença” e “doença prolongada”! (Todavia, hoje, morre‑se, nas notícias, de paragem cardiorrespiratória!) E até as queimaduras corporais são de grau 1 a 3.
As tríadas/tríades são correntes em outras perspetivas, contextos e situações; basta lembrar, por exemplo: os triunviratos, as troicas e as trindades.
O céu, o inferno e o purgatório – uma trilogia – presumem depósitos de almas de três qualidades, ou três tipos, cujo destino seria determinado por padrões (?) de comportamento dos corpos: os bons, os maus e os “indeterminados” (ou em “processo em curso”; hesitações de Deus?).
Quando se diz que “um homem menor não aguentaria 1/3 do que o político X aguentou” está subjacente uma métrica tripartida, presume‑se, de um determinado tipo de resiliência e de três tipos de homem: “o homem menor”; “o homem assim‑assim” e o “homem maior”, que aguentaria três vezes mais do que o “menor”.
E nos campos da ciência e da técnica, é de assinalar: o espaço 3D**, o tripé e o triângulo, todos com relevâncias conhecidas e reconhecidas.
Um júri com três elementos (ou outro número ímpar de elementos) não poderá empatar as decisões.
O rosário (contas enfiadas em formato de colar), usado, por exemplo, pelos fieis da igreja católica, constituído por um conjunto de três grupos de “contas”, é geralmente abreviado pelo “terço”, exatamente um terço das “contas” do rosário, quer como objeto, quer como “tamanho” da oração ou reza.
Mas, porque dizemos “não falo sobre a minha vida com terceiros!”, quando só queremos dizer “com outros” (“com segundos”)?!
* Este critério estende-se a outros domínios e circunstâncias: o curto, o médio e o longo prazos; o princípio, o meio e o fim; o primeiro terço, o segundo e o terceiro terços de um conjunto relativamente a propriedades do mesmo (conjunto). (Ainda há poucos anos, alguns povos ditos “primitivos” tinham bases de sistemas de numeração simples: “um, dois, três, muitos”.)
** Nas máquinas de comando (e controlo) numérico (CN – Comando Numérico – ou CNC – Comando Numérico Computadorizado), era frequente ouvir‑se referências a máquinas de dois eixos … e meio (2,5D), máquinas com programação automática em dois eixos (2D) – ou dois graus de liberdade – e programação manual no terceiro eixo.
Desde há bastante tempo são correntes e comuns as máquinas automáticas com mais do que três graus de liberdade (seis, sete e mais dimensões).
(Einstein, reinterpretando a Física, veio baralhar um pouco as coisas com o modelo do espaço físico 4D. Todavia, quanto a ferramentas úteis, qualquer dimensão é aceitável e lícita – o significado metafísico é outra estória.)
“Energia” é termo científico e técnico, mas também termo popular e até do paranormal que, frequentemente, vem embrulhado em alguma/muita ambiguidade e confusão*.
Medimos, contamos, a energia (elétrica) como contamos (medimos) os consumos de água e de gás: sobretudo, porque os pagamos.
Em Física, “energia” é o que resulta do “trabalho”, ou o que pode produzir “trabalho”. E “trabalho” define-se (em Física) de modo inambíguo e, simplificando, algebricamente (o que é vetorial): E=F∙l, onde E é o trabalho (ou energia) produzido por uma força** (F) a atuar (sobre um corpo) ao longo de um percurso (l).
Todavia, “energia” é um termo muito usado fora das áreas técnica e científica, isto é, em áreas de, entre outras: crença, fé, paranormal, ideologia, astrologia, poder e até arte.
(“Energia” e “força” são termos usados nas mais variadas situações, geralmente com muita ambiguidade, e, frequentemente, por falantes de léxico reduzido mas assertividade amplificada.)
Medimos a energia elétrica que consumimos em casa e podemos conhecer as potências dos dispositivos elétricos que possuímos (lâmpadas, fornos e TV, por exemplo); contudo, em geral, sentimo-nos (os cidadãos comuns) mais confortáveis com as potências*** (geralmente indicadas em cada dispositivo) do que com os consumos em cada processo, como, por exemplo: a lâmpada acesa durante duas horas e meia, o forno à potência máxima durante quarenta minutos, a TV ligada durante três horas e meia.
(A água do mar está cheia de energia térmica, mas nem sequer um ovo lá conseguimos cozer.)
Medimos distâncias e velocidades, mas em geral estamos mais confortáveis com as primeiras – que sabemos como medir – do que com as segundas. Nos carros, podemos conhecer uma e outra instantaneamente consultando o painel de instrumentos: olhamos para o hodómetro para conhecer as distâncias, e para o velocímetro para conhecer as velocidades.
As velocidades, entre outras dificuldades, apresentam variantes: velocidade média, velocidade instantânea (no carro, a que é indicada pelo velocímetro) e velocidade máxima, por exemplo.
* “Energia”, um termo polissémico, parece ser uma palavra mágica, uma palavra para muitas circunstâncias; contudo, uma palavra simples que não aparenta suscitar dúvidas; uma palavra que todos entenderm. E muitas palavras simples tendem a ser mágicas e a resolver todos os mistérios, a esclarecer quaisquer dúvidas, a permitir a compreensão imediata, a gerar esperanças, e a ser usadas por ignorantes, crentes e impertinentes de várias naturezas, níveis e descaramentos.
Quase ninguém se atreve a falar de, por exemplo, piezoeletricidade, fenómeno simples; mas, de energia, toda a gente sabe quase tudo; por exemplo, de energias boas e más, energias positivas e negativas, entre outras. (E quando a expressão for popularizada, falar‑se‑á de “energia escura”, ou “energia negra”, uma expressão mesmo a calhar!)
** Ouvimos, às vezes, alguém dizer que “gastou as forças todas”, como se a força fosse uma substância armazenável.
*** Estranhos são os potenciómetros que, em geral, não servem para medir a potência!
Quem diz homem‑padrão, diz mulher‑padrão, ou pessoa‑padrão. (Todavia, não há padrão; haveria padrões.)
Muitos aspetos da vida social, ou comunitária, são padronizados e padronizadores, embora uns mais do que outros. Por exemplo, a moda é padronizadora.
(Mas não só: a prevenção da nossa saúde, da saúde individual de cada um, é feita com base em valores‑padrão de grandezas fisiológicas, biofísicas e bioquímicas.)
Quem é que não ouviu já, relativamente à escrita e à fala, referências ao português‑padrão?!
O socialmente correto e o politicamente correto parecem ter também características ainda mais padronizadoras do que a moda estrita.
As religiões também são padronizadoras, em particular a partir dos ensinamentos dos líderes, da sedimentação de postulados (dogmas) e das normas estabelecidas pelas hierarquias das respetivas organizações*: pelos valores, princípios, bitolas, padrões, atitudes e comportamentos.
Os prosélitos de cada grupo (mais ou menos organizado) são muito parecidos entre si: por exemplo, pelo sectarismo mais ou menos exacerbado/mitigado: do futebol ao partidarismo político; da ideologia (de todos os tipos) ao ativismo; da política à religião.
Em outra perspetiva, alguns gregos já haviam avisado – por Protágoras, um grego – que “O homem é a medida de todas as coisas”. Isto é, o “homem” é a bitola, a referência, o padrão para tudo. Todavia, não se trataria de (um) homem-padrão – um modelo – que serviria de bitola a todos: seria cada um a sua própria referência, a sua própria bitola, o seu padrão**. (Ora isto não é propriamente a “quinta‑essência” da Metrologia!)
Contudo, por exemplo, na saúde, parece existir um homem‑padrão, e uma mulher‑padrão, que são a referência, entre outros, para os valores de grandezas fisiológicas. E todo o desvio detetado (ao modelo‑padrão) seria devido a putativas disfunções orgânicas, anomalias e avarias e, por isso, elegíveis para prevenções, correções e curas***.
As leis (políticas, administrativas e comunitárias) também são iguais para todos, como se fôssemos todos iguais, ainda que se diga que alguns são mais iguais do que outros. Todavia, parece um bom critério inicial para a gestão ou governação do conjunto de cidadãos de uma comunidade.
* Por exemplo, em geral, cada seita tem os tipos comuns de respostas padronizadas a perguntas feitas por terceiros. E quem (especialmente dentro do grupo) questionar, opinar diferentemente, ou apontar incoerências na doutrina, será um herege, um apóstata, um ímpio, um blasfemo, naturalmente a ser excluído, expulso, afastado, marginalizado.
E os castigos não sobrevirão (só) depois da morte, no futuro: ocorrerão mesmo durante a vida, no presente.
** Com frequência, as pessoas avaliam as outras pelo que (elas próprias) são, tomando-se, em geral, inconscientemente(?), por padrão. Na verdade, nós próprios somos o padrão e a referência mais próxima e mais imediata para o que (à nossa volta) observamos, avaliamos e opinamos.
*** Na saúde, como em outras áreas, há as sacrossantas referências‑padrão, e qualquer vivente não‑conforme é tratado de tal modo que venha a ajustar-se ao “padrão”, à “normalidade”. Simplificando, e com humor: aos muito altos prescreve-se tratamentos e cirurgias que os tragam à altura‑padrão, incluindo, por exemplo, cortes nas pernas – literalmente! Ou a diminuição do ângulo dos “olhos em bico”, entre outros desvios ao padrão (do momento).
As medidas não são eternas, nem inquestionáveis; e as (escolhas das)
mensurandas (mensurandos, em brasileiro) também não.
São frequentes as medições mal feitas e as medidas com erros significativos. Contudo, não é frequente questionarmos medidas, origem das medidas, medições, medidores, interpretações das medidas, entre outros fatores, perspetivas e procedimentos nos processos metrológicos. E não o fazemos por várias razões, mas principalmente por: 1 – desconhecermos poder haver motivo para questionar; 2 – não valer a pena; 3 – desconhecermos os fatores envolvidos nas medições, ou, por não sabermos como, porquê e o que questionar*.
Menos frequente ainda parece ser o ato de reclamar a pretexto de medidas e de medições.
Por exemplo, nos supermercados, alguns produtos embalados (com preços proporcionais ao peso) perdem peso com o tempo, apresentando medidas reais mais baixas do que as que figuram nas etiquetas apostas aquando do embalamento; contudo, em geral, os consumidores nem sequer se dão conta do facto.
Algumas medidas variam rapidamente (medidas da velocidade do vento, por exemplo), por isso é necessário indicar hora, lugar e medidor a cada medição realizada. A velocidade do vento é geralmente apresentada, quer sob a forma de um intervalo, por exemplo, 30 km/h – 50 km/h, quer sob a forma de velocidade média.
Algumas grandezas fisiológicas (dos humanos) também têm variações relevantes, ou, não fosse a saúde um fenómeno complexo!
Mercê, por exemplo, de legislação, vão mudando as referências das grandezas cujas medidas constam de rótulos de embalagens de alimentos.
Frequentemente, o número de algarismos significativos das expressões metrológicas não são o que parecem. A expressão “2 kg” (um algarismo significativo) não tem o mesmo valor metrológico que “2000 g” (quatro algarismos significativos, e, metrologicamente, o mesmo que 2,000 kg); só matematicamente, só em abstração quantitativa, 2 kg e 2,000 kg são equivalentes. A expressão “2 kg” pressupõe uma incerteza muito maior do que a incerteza de “2,000 kg”. (Quem diz “2 kg” não se compromete (metrologicamente) tanto como quem diz “2000 g” (ou, 2,000 kg), embora pareça ser o mesmo peso.
Há muitos instrumentos que, por exemplo, devido a histerese, e outros fenómenos, necessitam de ser ajustados (resetting) com frequência; não proceder frequentemente a estes ajustes aumenta a incerteza (diminui a precisão) e a exatidão das medições.
* Nem todas as medições são tão simples como as pesagens no supermercado. Por exemplo, medir o limite elástico de um determinado material implica operações/processos e fatores, como, por exemplo, fabrico e medição de provetes, fixação dos provetes na máquina de ensaios, calibração da máquina e modo de aplicação da força, que, cada um, e todos juntos, condicionam o resultado final.
Em relatos de trabalhos científicos que incluam medições, geralmente são referidos: as técnicas, os métodos, os sistemas de medição e os procedimentos.
Por outro lado, em muitas medições, em ciência, são feitos milhares de repetições da mesma medição.