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Medidas e medições para todos

Crónicas de reflexão sobre medidas e medições. Histórias quase banais sobre temas metrológicos. Ignorância, erros e menosprezo metrológicos correntes.

Medidas e medições para todos

Crónicas de reflexão sobre medidas e medições. Histórias quase banais sobre temas metrológicos. Ignorância, erros e menosprezo metrológicos correntes.

MEDIR PARA BEM CUSTEAR

MEDIR PARA BEM CUSTEAR

Custear para bem decidir

 

Antes do preço que uma empresa fixa, ou estabelece, para um produto – “artefactos” (uma mesa e uma cadeira, entre outros) e “serviços” (um corte de cabelo e uma consulta médica, por exemplo) são produtos! –, é, ou seria necessário calcular o custo: quanto custa à empresa, isto é, que recursos e respetivas quantidades utiliza para fabricar o artefacto, ou produzir o serviço.

Desconhecer os custos é estar “às escuras”, com todas as consequências de se andar “à toa” quando se fixa os preços*.

Para estabelecer o preço de um produto, primeiro deve‑se calcular o custo**: que materiais, mão‑de‑obra, máquinas e outros recursos e atividades são utilizados na produção? E que quantidades de cada um destes recursos, e de outros fatores relevantes?

É necessário medir os recursos consumidos, integrados ou utilizados na produção, e transformá-los em medidas monetárias para determinar os custos.

O custo (medida agregada dos recursos consumidos na produção) é uma verdadeira medida de uma característica relevante, incontornável e omnipresente em todos os produtos, ainda que incorpórea.

Em muitos negócios, os responsáveis não conhecem, ou dispensam o cálculo dos custos, entre outras prováveis e correntes displicências de gestão. Com frequência, os gestores conhecem o desempenho da empresa (de modo diferido e indicativo) através (dos movimentos) da tesouraria.

Um gestor de restaurante deveria ser capaz de custear, ou fazer o custeio de “uma dose” para, de seguida, poder estabelecer o preço da mesma (dose) de modo a poder continuar com o negócio e eventualmente expandi-lo e desenvolvê-lo (entre outros objetivos), ou de competir com os concorrentes.

Se os preços forem (demasiado) altos, poderá não haver clientes bastantes e o negócio tornar‑se inviável; se os preços não cobrirem os custos entrar‑se‑á em perda e, eventualmente, em insolvência e falência.

Também se poderá andar à toa – uma vez por outra a sorte protege os audazes.

Para saber custear é necessário, por exemplo, saber pesar, medir volumes, medir energia e tempo, ainda que com incerteza, eventualmente grande.

Também é necessário fazer uma repartição adequada dos custos – um processo eventualmente complexo – quando há diferentes tipos de produtos a partilhar atividades, energia e recursos físicos, entre outros.

O custeio é, relevantemente, um problema de medição e repartição. Sem sair da cozinha, como fazer a atribuição do consumo e partilha da energia gasta no fogão que foi usado para fazer simultaneamente a sopa e a carne estufada?

É necessário também conhecer os instrumentos de medição: os contadores da água, do gás e da eletricidade; saber lê-los, e lê-los nos tempos mais adequados; saber manusear e combinar medidas – coisas de contabilistas?

 

*Custo é o que o comprador desembolsa; preço é o que o vendedor embolsa.

O comprador de hoje poderá amanhã ser vendedor.

Preço (o que embolsa o vendedor) e custo (o que desembolsa o comprador) nem sempre coincidem: na compra de um artefacto (carro), ou serviço (férias), a crédito, ou a prestações, o comprador desembolsa mais do que embolsa o vendedor por haver uma terceira entidade que embolsa os juros, comissões, e outros encargos relativos ao crédito.

 

** Há uma mnemónica clássica, feita com termos em inglês, que facilita a enumeração dos fatores mais relevantes: os “7M”: Materials; Men; Machines; Management; Maintenance; Money; Market.

 

2021‑05‑27

DIA MUNDIAL DA METROLOGIA – 2021

DIA MUNDIAL DA METROLOGIA – 2021

20 de maio

 

Há já alguns anos que a 20 de maio* (de cada ano) se comemora o Dia Mundial da Metrologia. Este ano – 2021 – a temática da celebração foi denominada Measurement for Health (Medição para a Saúde). Todavia, o tema da celebração de 2006 havia sido parecido: Measurement in Health (Medição na Saúde).

As medições para a saúde incluem, quer as medições que são feitas em doentes e pacientes, quer as que são feitas por cientistas, tecnólogos e outros técnicos que trabalham, por exemplo, para a deteção, compreensão, e eliminação e mitigação de doenças, principalmente em humanos**.

(Ouve‑se dizer frequentemente que entrámos numa era de “saúde à medida”, com fármacos, cuidados e tratamentos “à medida” de cada indivíduo.)

Contudo, os promotores da comemoração (deste ano) têm por objetivo “criar sensibilidade”, mais ou menos pública, para o importante papel da(s) medição(ões) na saúde e bem‑estar de todos e de cada um de nós.

(Não fossem as medições e a Medicina seria ainda uma arte, e a Farmacologia um catálogo de mezinhas. Nestas, como em quase todas as áreas, por inércia dinâmica [momentum] civilizacional, as medições são essenciais, necessárias e incontornáveis para o progresso. De resto, a Saúde é desde há muito uma indústria, uma área de negócio e um domínio onde responsabilidades, normas e regulamentos fazem intervir as autoridades dos estados mundiais que exigem, impõem e determinam medições tornando‑as incontornáveis.)

Há algumas grandezas, por exemplo, biofísicas, bioquímicas e até biométricas, com valores de intervalos de referência comuns a todos, ou à maioria das pessoas; só para exemplo, e entre muitas outras grandezas: a pressão (tensão) arterial, os níveis dos colesterois, e a (relação entre a) altura e o peso de cada paciente.

“Medir” é incontornável para a verificação da normalidade – materializada em padrões, referências e normas – do estado de saúde de cada um.

Entretanto, como ainda recentemente se percebeu, a propósito da pandemia em curso (a “Covid-19”), associada a um vírus específico (o “SARS‑CoV‑2”), medir e contar, não só em indivíduos, mas sobretudo em grupos, torna-se uma necessidade inultrapassável para o controlo da pandemia e das populações e comunidades.

A investigação para a Saúde implica um número indeterminado e, à partida, indefinido de medições, e de tipos de medições, com vista ao rigor dos diagnósticos, à diminuição da incerteza dos prognósticos, à criação e preparação de fármacos, de instrumentos (incluindo os metrológicos) e de máquinas, apropriados a cada finalidade, a cada doença e a cada indivíduo.

 

* A 20 de maio de 1875, em França, quase um século após o início da Revolução Francesa [1789–1799] – um turbilhão social, político e económico, que também promoveu, entre outros, o estudo, o projeto e a elaboração de um sistema de medidas unificado, mais racional e consistente do que os que vigoravam até então e que os substituiria –, foi assinada a Convenção do Metro, de que Portugal foi um dos dezassete (17) subscritores.

 

** Nas Ciências da Complexidade – onde se inclui a Saúde – é fácil e frequente detetar e descobrir correlações (ainda que, às vezes, circunstanciais, transitórias e acidentais), mas é difícil estabelecer nexos de causalidade (simples e indiscutíveis) entre grandezas, ou fatores.

 

2021‑05‑20

AO QUILO OU AO LITRO?

AO QUILO OU AO LITRO?

Conveniência e tradição

 

Os líquidos são, em princípio, por comodidade, facilidade e tradição, comummente (comumente, em brasileiro) medidos a/ao litro, eventualmente com outra unidade de capacidade (ou volume), como o hectolitro (hL, cem litros), o metro cúbico (m3), ou o quilolitro, aliás, kilolitro (kL, mil litros, 1000 L, equivalente a 1000 dm3, ou 1 m3).

Alguns líquidos também são medidos a/ao quilo* (um termo popular, em Portugal, para “quilograma”, aliás, “kilograma”), como, por exemplo, os combustíveis para as aeronaves. E até os gases combustíveis (sob pressão) que compramos em garrafa/botija são comprados/vendidos ao quilo**.

O álcool etílico é vendido/comprado, como os líquidos em geral, a/ao litro; todavia, a alcoolemia é medida em gramas (de álcool) por cada litro de sangue (g/L). Mas o teor alcoólico do vinho é geralmente expresso – ver garrafas de vinho – em litragem por litro (L/L, litragem de álcool por litro de vinho, ou percentagem volumétrica, por exemplo, “14% em volume”).

Com os sólidos, no quotidiano, em princípio, é mais fácil e corrente a medição a/ao peso. Contudo, sementes e produtos granulares*** poderão, sem grande dificuldade, ser – e ainda são, em muitos locais – medidos em unidades de capacidade (ou de volume): um litro de feijão encarnado; um moio de milho amarelo; um alqueire de trigo espelta.

Outros materiais sólidos poderão ser medidos em unidades de volume: as areias para a construção civil são transacionadas em metros cúbicos (m3); a madeira em esteres (símbolo, st – o estere, uma unidade de volume, já foi uma unidade do Sistema Internacional de Unidades).

E também se pode comprar pedra ao metro, para aplicações na construção civil.

O peso de um litro de gasolina, hoje, poderá ser diferente do peso de um litro de gasolina em outro dia: a diferença de temperatura e outros fatores difíceis de controlar poderão influenciar a variação do volume. Um volume de água, ou de gasolina, ou de azeite não se mantém invariante com a variação da temperatura; mas o peso de qualquer um destes produtos é invariante quanto à massa e quanto ao número de moléculas de cada uma destas substâncias. (E esta é a principal razão por que os combustíveis são dispensados a/ao peso às aeronaves – que não podem, em geral, reabastecer-se no ar.)

Há uma grande experiência com caudalímetros, isto é, medidores de caudal (vazão, em brasileiro), mas não com a medição do fluxo de peso (massa).

 

* Curiosa é a expressão “peso líquido” que lemos em algumas embalagens, em contraponto, ou expressão esclarecedora de outra: “peso bruto”, ou “peso ilíquido”.

 

** A propósito de muitas publicações académicas, e outras, refere‑se frequentemente “publicação a/ao quilo” (ou, “publicação a metro”), significando grandes quantidades de papers com descrições, relatos e narrativas banais, irrelevantes, ou desinteressantes.

 

*** Um conjunto, especialmente um conjunto muito grande de produtos granulares, (por exemplo, areia, sementes, grãos) tem comportamento com algumas características idênticas às dos líquidos: volume constante e forma adaptável (aos recipientes que os contêm).

 

2021‑05‑13

MEDIR PARA SINCRONIZAR

MEDIR PARA SINCRONIZAR

Por quê, quando, para quê?

 

O leitor já terá tido oportunidade de verificar que, por exemplo, na hora dos noticiários das TV, dois diferentes canais poderão mostrar imagens de relógios que não estão sincronizadas(os). E poderá ainda observar dessincronização (da imagem) do mesmo relógio (de um mesmo canal) em diferentes televisores, num mesmo local de receção.

Mas o leitor poderá fazer outras tentativas e constatar a dessincronização com outros meios que não as TV.

A não sincronização das imagens dos relógios poderá dever-se aos diferentes percursos e aos diferentes meios materiais por onde circula o sinal das estações de TV até nossa casa; e/ou à dessincronização dos relógios.

Os relógios – mecânicos, elétricos, eletromecânicos, eletromecatrónicos, atómicos e outros – são máquinas recentes cujo desenvolvimento (nomeadamente das versões populares, caseiras e pessoais) não terá ainda terminado. “As horas” que observamos num relógio são só um aspeto do seu estado, do estado do relógio – de cada relógio.

Muitos pedidos de patentes para a sincronização de relógios, especialmente os que estavam distantes uns dos outros, terão ido parar às mãos de Einstein, quando era funcionário de um gabinete de patentes, e terão estimulado o seu interesse pela “simultaneidade”, pelo tempo (cronológico) e pela viagem dos sinais que levam a informação do tempo (cronológico) de um lugar a outro.

Quando nos dizem que o comboio parte às 14 h 15 min (14 h 15) de Lisboa e chega às 18 h 30 min (18 h 30) ao Porto poderemos tentar verificar o tempo (real) de viagem comparando a hora do relógio da estação de Lisboa, à partida, com a hora do relógio da estação do Porto, à chegada, presumindo que aqueles (dois) relógios estão sincronizados. Ou, usando o nosso próprio relógio, o que, no século XIX, era difícil, por serem raros os relógios pessoais, e por não haver “uniformização das horas” em diferentes cidades de alguns países. Isto fazia sentir a acuidade do problema da sincronização* para tentar verificar, entre muitas outras necessidades, o tempo de viagem.

O problema da sincronização de relógios também era muito relevante quando, inventada a transmissão à distância, se pretendia referir e comparar a hora de expedição da mensagem e a da sua receção.

Sem relógios, nunca se terá posto o problema da simultaneidade e o da sincronização**; só quando começámos a medir o tempo, como se fosse uma “commodity” (“tempo é dinheiro”(!?)), emergiu o problema da simultaneidade***.

 

* No passado, para resolver alguns problemas (de sincronização), quando ainda não havia muitos relógios, houve quem tivesse proposto a mesma hora em todo o mundo; todos os relógios sincronizados … na mesma hora.

E parece que assim seria, hoje, por exemplo, na China, apesar de atravessada por vários fusos horários.

 

** Os problemas práticos e científicos do tempo (cronológico) aparecem com os relógios; sem relógios (de batimentos) parecia bem firme a conceção do tempo (mais ou menos) absoluto. Com a aparição dos relógios modernos (e dos instrumentos de medição, em geral) surgiu a necessidade (por exemplo, com Einstein) de questionar a natureza da luz, um veículo de transmissão de informação.

 

*** De modo semelhante, enquanto se pensava que as órbitas dos planetas eram circulares, não necessitávamos de explicações. Quando, medindo, se ficou a saber que as órbitas são (geralmente) elípticas, logo surgiu a necessidade de uma explicação do fenómeno!

 

2021-05-06

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