Todos os sistemas se transformam e mudam: os sistemas naturais evoluem, os sistemas humanos são reformados (ou revolucionados) e evoluem por darwinismo científico, tecnológico, político e societal.
Simplificação, racionalização, normalização, uniformização, democratização, popularização, banalização e globalização das medições, das medidas e de um sistema metrológico universal, são diferentes perspetivas e vertentes da evolução (e reforma) metrológica*.
A maior mudança metrológica terá sido a criação do Sistema Métrico**, precursor do SI.
A derivação de novas unidades de medida (por exemplo, para novas grandezas), a partir de unidades de base (ou derivadas) pré-estabelecidas, é também um processo que fica muito simplificado com o Sistema Métrico e o seu sucessor, o SI, ou Sistema Internacional de Unidades.
Todavia, um dos aspetos mais importantes da evolução metrológica é a adoção de uma referência universal, de um só padrão, da mesma bitola (para cada grandeza e sua unidade de medida de base) por e para todos (os medidores). Uma evolução … na convergência.
O Sistema Métrico Decimal, alegadamente o primeiro sistema metrológico mais racional, mais lógico, mais razoável, mais simples e mais universal, surgiu (de propostas antigas) nos planos político, societal e técnico, com a Revolução Francesa, uma revolução que, a prazo, e a prazos variáveis e com diferentes cambiantes, abalou (política e socialmente) uma parte muito relevante do mundo.
A evolução da Metrologia, mormente da Tecnologia Metrológica – a par e ligada a muitas outras tecnologias e outras Ciências –, ocorreu, cumulativamente, nos instrumentos, nos conceitos, nos princípios metrológicos, nas técnicas, nos métodos, nos padrões, nas necessidades científicas, entre outras necessidades e tendências evolutivas/reformadoras.
Contudo, primeiro era o dia‑a‑dia e a Tecnologia (metrológica), por via das necessidades e utilidades práticas (comerciais e outras); depois, necessariamente, avançou a Ciência (metrológica).
Porém, para a generalidade dos consumidores, cidadãos e utentes, a vertente mais relevante da Metrologia é a “Metrologia Legal”, a que estabelece e impõe o sistema de unidades a usar num estado, país ou comunidade, e o conjunto de autoridades (necessárias e suficientes) que gerem o sistema e os direitos e os deveres de todos os agentes envolvidos: comerciantes, organismos controladores e autoridades certificadoras, calibradoras e de arbitragem.
* A evolução metrológica, melhor, a(s) reforma(s) metrológica(s) poderá(ão) balizar‑se, por exemplo, por três níveis: o nível moral e ético (a Bíblia propugna pela medida justa); o nível político e societal (a Magna Carta, dos ingleses, estabelece a medida devida); o nível legal e normativo (leis impondo e obrigando à utilização de unidades, calibração e protocolos legais, através de normas, métodos e procedimentos compulsivos, com sansões aos não cumpridores que ignorem a medida legal).
**Jamais algo de maior e mais simples, de maior coerência em todas as suas partes saiu da mão dos homens – Antoine Laurent de Lavoisier, em 1794 (ano em que foi guilhotinado), a propósito do Sistema Métrico Decimal.
Respigos quase metrológicos; registos quase antológicos e outras citações:
Uma quantidade de vento enorme;
Um número exponencial;
O arrefecimento da temperatura;
O que será pior: a temperatura quente, ou a temperatura fria?;
Menos setenta graus negativos;
Radares vão medir as velocidades entre trajetos;
Conjugação de um conjunto de ingredientes atmosféricos;
Pode mudar de género e de nacionalidade, mas não pode mudar de altura;
Estado de calamidade começou hoje às 24 h;
Pão, arroz, ou massa, em doses boas e a horas certas ajudam a emagrecer;
Gastar as forças todas;
Uma grama de energia;
Campeão do mundo de Judo em -100kg;
50 km de marcha femininos;
22° C, vinte e dois graus … centígrados;
Correu a milha em 4.22,45 minutos;
Deu uma volta de 180 graus;
A vida dela virou do avesso, rodou 360 graus, ou mais;
Os tempos estão a adensar-se;
36 mM US$ (trinta e seis mil milhões de dólares americanos);
Teve negativa, teve 8.
E upgradings (!) de estilo e de estética; e aggiornamento (!) semântico*:
Os dados são todos científicos;
Só há estudos científicos;
Todos as subidas são exponenciais;
Os centros foram promovidos a epicentros e deixaram o léxico corrente;
As resiliências substituíram as resistências;
As relações deram lugar às correlações;
Os métodos e os objetivos foram eliminados para dar lugar às estratégias;
As tecnologias novas são novas tecnologias;
Acabaram os modelos; vivam os paradigmas;
Os procedimentos foram substituídos pelos protocolos;
Os quilómetros‑hora sobrepõem‑se aos quilómetros por hora;
Os quilowatts/hora predominam sobre os quilowatts‑hora;
O raio vale por diâmetro, perímetro e área de qualquer contorno/superfície;
Reduzir ao máximo é o mesmo que reduzir ao mínimo;
Algumas estações de rádio ainda se propagam no éter;
O argumentário reducionista, simplório e simplista aristocratizou-se em teorias;
A grama, o síndrome, o covid, o interface, entre outros, são transgénero(s);
A tecnologia elidiu a técnica.
* Há quem diga que não é erro, nem ignorância, nem incompetência (linguística?); é uma desconstrução e um enriquecimento linguísticos através de uma nova ética, um novo estilo e uma nova estética comunicacionais! A novilíngua!
(É assim a língua – sempre a avançar!; e sem recuos. Como a entropia?!)
Quase todos chamamos “tempo” àquilo que lemos nos relógios, mas, aparentemente, não sabemos se, para além de contarem os seus próprios impulsos, ou batimentos – na maior parte dos relógios –, eles contam/medem (mais) alguma coisa (real).
Não vemos as horas no relógio: vemos as horas do relógio, isto é, o estado ou condição de cada relógio, diferente, variável, de relógio para relógio*.
(Contudo, há regras, métodos e convenções para a sincronização dos relógios. A dos relógios dos ingleses era feita através dos horários dos seus comboios!)
Aparentemente, não há outro tempo senão o que imaginamos e medimos nos relógios (“tempo cronológico”), embora refiramos frequentemente tempos não físicos, como, por exemplo, o “tempo psicológico”, o “tempo histórico” e o “tempo natural”**. E muitos acreditam que “o tempo resolve tudo”.
Os relógios em cima da mesa medem menos – são mais lentos – do que os relógios no chão. Este facto (fato, em brasileiro) foi já constatado experimentalmente, e deve-se ao fenómeno de a gravidade em cima da mesa ser inferior à que se mede no chão***.
A idade de cada um, para quem vive na montanha, avança mais devagar do que a de quem vive no vale; os habitantes dos vales envelhecem mais depressa do que os da montanha!
O cidadão comum não sabe disto, nem tem necessidade de saber por que é uma irrelevância (prática). Alguns até usam relógios originais e artísticos, sem graduação; sabe-se, pela posição dos ponteiros, que serão “pra aí” quatro, ou cinco horas.
* – “Um homem com um relógio sabe que horas são; um homem com dois relógios nunca tem a certeza” (Lei de Segal, uma lei das do âmbito das leis de Murphy).
– “Um relógio parado está certo duas vezes por dia”.
– “Não percebo porque se perde tanto tempo a discutir o tempo, que não é nenhuma entidade metafísica, é apenas uma empresa de demolições”, opinou António Lobo Antunes.
– A temperatura indicada por um termómetro é determinada pelo meio que contacta; o tempo indicado por um relógio é uma indicação do seu estado.
** Einstein, entre outros, terá dito que “o tempo é uma ilusão”, todavia, há quem se refira à “seta do tempo” – inextricável da impossibilidade da diminuição da entropia –, como indício, ou prova, de que o tempo não seria uma ilusão, ou ficção. (Um prato que caia e se parta no chão não voltará a integrar‑se e a subir, apesar da probabilidade/esperança – muito menos do que ténue! – que a Mecânica Quântica parece oferecer para este milagre.)
*** Para começar a aceitar e a convencer-se disto, pense, leitor, por exemplo, na expressão que dá o período do pêndulo: T=2 π(l/g)½, em que T é o período de oscilação – o tempo que leva uma oscilação completa –, l o comprimento do pêndulo e g a aceleração da gravidade local.
Quando g cresce (por exemplo, quando descemos da torre da igreja para a base), T (o período) diminui, isto é, a frequência (1/T) aumenta, ou, de outro modo, o pêndulo oscila mais rapidamente. Com g=0 (T=∞) os relógios de pêndulo não funcionariam (e, aparentemente, os outros relógios também não).
Com a Teoria da Relatividade, à velocidade da luz, (cientificamente) o tempo não fluiria, diz-se.
Com alguma frequência as avaliações e estimativas (quantificadas) são feitas com olhómetro, a olho; com olhos e cabeça; um exemplo: a perceção da temperatura atmosférica.
Um árbitro, por exemplo, no futebol, qual juiz (de direito), decide de acordo com a perceção de factos; todavia, cada vez mais frequentemente com ajudas tecnológicas, embora as Decisões Ajudadas por Tecnologia nem sempre sejam incontestadas.
O jogador de futebol é com frequência penalizado pelo árbitro, pela intensidade do contacto com o adversário em algumas disputas de bola.
– Qual intensidade? – O futebol não é um jogo viril?! (Apesar da modalidade do “futebol feminino”?!; virilidade poderá ter pouco a ver com agressividade!?)
– Quem avalia a intensidade do contacto? – Quem determina a intensidade do contacto? – O árbitro! – Ele mede? – Não! – Ele decide a olho, com olhómetro, em geral com a reprovação exteriorizada e ruidosa dos adeptos do clube do jogador penalizado, e as palmas dos adeptos do clube adversário (quando havia adeptos nas bancadas dos estádios.)
Medindo, o que seria a “intensidade de contacto”?: a força?!; a quantidade de movimento (momentum, momento linear), ou impulso?!; a energia cinética?!; a “força viva”?!; o choque?!; “outra coisa”?!; uma combinação de várias destas grandezas (e da coisa) físicas?!
Poderá haver Metrologia credível, comparável, contraditável, sem medição?; sem medidas, sem quantificação objetiva, sem informação experimental?!
Frequentemente somos brindados com o dado referente à velocidade da bola que entrou na baliza; e também com o número de quilómetros (aliás, kilometros) percorridos pelo jogador X durante um determinado jogo.
Com medições e medidas talvez o futebol deixasse de ser o epifenómeno catártico que parece preparar as pessoas para a monotonia da semana de trabalho seguinte e, simultaneamente, permite descarregar tensões acumuladas na semana anterior. Sem ambiguidade, sem fantasia e sem expectativa não há margem nem grande estímulo para a dilatação e prolongamento das discussões (futebolísticas) fora do estádio.
E, já agora, o amor clubístico – a “intensidade do amor clubístico” – é quantificável, graduável, mensurável? Não?! Todavia, está sujeito a gradações e variações – há os adeptos muito ferrenhos, ferrenhos, assim‑assim e pouco ferrenhos, entre outras gradações –; não parece ser fenómeno de tudo‑ou‑nada.
E estar adoentado, doente, muito doente – será mensurável?
Os médicos – em geral um coletivo de médicos – já atribuem “grau de incapacidade” às pessoas com deficiência (quer congénita, quer adquirida): a deficiência (um fenómeno complexo) seria mensurável, ou, pelo menos, quantificável! (Sem grande reprodutibilidade, presume‑se!)
E quando os médicos dão baixa de três dias aos doentes, e não, por exemplo, de dez dias, medem? É tudo a olho, com “olhómetro”?
Fica-se doido, ou vai-se ficando doido? O processo é gradativo (do idiota ao doido varrido), ou é um fenómeno de tudo‑ou‑nada?
A experiência, por exemplo, a experiência profissional, é quantificável?; mensurável?, para além do número de anos de prática profissional?!
O que não se pode exprimir por números é naturalmente mais ambíguo.