São frequentemente relevantes – preocupantes e às vezes fonte de conflito – as variações dos caudais dos rios, principalmente quando estas variações são muito elevadas* e o mesmo rio corre em mais do que um país.
Caudais reduzidos e caudais exageradamente grandes, nos rios, como sucede em períodos de seca e períodos muito chuvosos, respetivamente, são preocupantes e frequentemente objeto de análise, negociação e acordos, quando, por exemplo, o mesmo rio é compartilhado por países diferentes.
Especialmente em anos de seca, ouvimos frequentemente os políticos (entre outros) falarem de barragens e de rios, especialmente das bacias hidrográficas compartilhadas por dois ou mais países. Ouvimo-los falar quase exclusivamente – pela perceção que nos dão os média (mídia, em brasileiro) – de caudais.
Caudal** (vazão, em brasileiro) é, por exemplo, a quantidade de líquido que entra ou sai de um depósito na unidade de tempo. É a quantidade de líquido que, durante uma unidade de tempo – minuto, segundo, hora, ou outra unidade de tempo, consoante for mais adequado – atravessa ou passa numa secção, “porta”, ou “janela”.
Se, abrindo uma torneira, enchemos um balde de doze litros (12 L) em dois minutos, o caudal é/foi de seis litros por minuto (12 L/2 min=6 L/min).
Num rio, ribeiro ou regato, a medição do caudal (do rio, do ribeiro, ou do regato) complica-se um pouco, pela irregularidade das secções e a não uniformidade da velocidade da água, por que o método de medição*** não pode consistir em encher baldes com toda a água corrente!
Onde houver barragens, açudes ou outro tipo de represas com secção de saída (ou passagem) geométrica regular, controlada, é mais fácil medir o caudal.
Desde que não haja variações significativas (instantâneas) numa secção, o caudal manter-se-á relativamente constante ao longo de determinados troços, durante alguns períodos, ou lapsos de tempo.
Se a secção (a moldura, o caixilho) por onde passa a água estiver totalmente preenchida e for regular e conhecida a sua área, bastaria medir, ou determinar a velocidade da água (na secção).
A expressão que permite calcular o caudal é:
Q=A∙v=A∙l/t=V/t,
Onde Q é o caudal (vazão), A é a área da secção, v (=l/t) é a velocidade da água e l/t é o quociente do percurso da água, l, durante o período t, e A∙l (=V) é o volume de água que passa na dita secção durante o período de tempo t.
A incerteza (e a repetibilidade) poderá ser apreciável, mas se se mantiver o método e os critérios (metrológicos) poder‑se‑á tirar conclusões aceitáveis acerca das variações (de caudal).
* No antigo Egito existia, e parece ainda existir, o nilómetro, um poço, à semelhança dos dos marégrafos atuais, para a medição cómoda e (mais) exata da “altura” (nível) da água do rio Nilo.
** No futebol, comentadores, relatadores e analistas falam por vezes de caudal ofensivo de uma, ou das duas equipas que jogam.
*** Podemos usar vários métodos de medição e calcular a reprodutibilidade de medição a fim de avaliarmos a fidelidade de medição.
Longos, sinuosos e tentativos costumam ser os caminhos de todos os empreendimentos humanos, incluindo o da Metrologia. Em especial os caminhos das grandes mudanças metrológicas, ao longo do tempo, nas comunidades, através das sociedades civis, das empresas e instituições públicas.
O Sistema Internacional de Unidades (SI), herdeiro do Sistema Métrico (proposto, criado e desenvolvido em França, antes, durante e após a Revolução … Francesa) não é o único sistema de unidades no conjunto das nações.
O SI é o sistema metrológico mais comum e o mais compartilhado, mas, por exemplo, os EUA ainda não o adotaram. Contudo, o SI é largamente usado pela comunidade científica dos mesmos EUA.
No entanto, são muito poucos os estados, ou países, que ainda não aderiram ao SI.
A mudança (formal) de sistema metrológico, por exemplo, do sistema inglês para o Sistema Internacional de Unidades (SI), tem custos elevados e é demorada e complexa, mais em países grandes – com sistemas mais intricados/intrincados – do que em qualquer pequena ilha do Oceano Pacífico que use o sistema inglês*.
São exemplos de geração de custos das mudanças de sistema metrológico: produzir novos documentos; promover cursos de formação, de reeducação e de atualização para, por exemplo, funcionários e técnicos associados às instituições metrológicas; produzir novos padrões (sobretudo secundários) e protótipos, entre outros custos de um leque indeterminado de outros itens. Subsequentemente, sucatear (sucatar, em brasileiro) – atirar para a sucata – muitos instrumentos e dispositivos metrológicos**.
Contudo, os custos da mudança não são exclusivamente financeiros: são, por exemplo, também sociais e pessoais***. O desconforto, os erros adicionais (aos correntes) e os pleitos entre agentes em adaptação não são despiciendos.
O período da adaptação, eventualmente (muito) longo, acarreta mais erros do que os erros (metrológicos) costumeiros.
Para além de outros fatores, os custos financeiros, económicos e sociais poderão ser, só por si, demasiado elevados e relevantes para justificar o adiamento da adesão, ou a não adesão a um sistema metrológico diferente do que estiver em uso.
* Não sendo comparável em absoluto, a maioria dos portugueses – aqueles que a viveram – lembrar‑se‑á do desconforto, da confusão e das disputas que foram criadas pela recente mudança da (antiga) moeda portuguesa – a unidade escudo – para a moeda europeia – a unidade euro.
** Instrumentos e dispositivos metrológicos, como, por exemplo, os palpa‑folgas, entre muitos outros. Todavia, em alguns dispositivos metrológicos eletromecatrónicos bastaria alterar o software.
*** As pessoas que já viajaram para países onde as unidades metrológicas correntes não são as unidades SI, já sentiram o desconforto, a dificuldade e a insegurança nas compras e outras trocas, geralmente potenciadas pelas diferenças das moedas correntes nesses países.
Os números, sozinhos, são pouca coisa, ou quase nada. Os números, desacompanhados, são entidades abstratas, sem informação, sem préstimo.
Zero (também) é um número, mas, tal como o símbolo que o representa, é uma criação recente.
Se 47, 13, ou 5 não são os números de uma lotaria, sem mais informação eles não significam nada, ou quase nada.
Se forem 47 pessoas, 13 m de fio de cobre e 5% de taxa de rendimento de uma aplicação financeira, já é qualquer coisa!
Alguns números são medidas, outros são contagens, outros não são uma coisa nem outra.
O número que exprime a idade de cada um de nós é uma medida (curiosamente, um número inteiro, melhor, um número natural!). O número da porta da nossa casa (um número natural), na rua, não, não é uma medida. Este último é uma cara(c)terística nominal*; a porta poderia ser identificada por, por exemplo, um par de letras.
Números que não sejam resultados de medições (ou contagens), ou não estejam relacionados com medidas – estimativas de medidas, por exemplo –, terão pouco valor como informação.
Só as medidas – nem todas, certamente – são confiáveis. A interpretação, pertinência e relevância dessas medidas são outra estória**.
Estimativas de medidas têm o valor que o estimador tiver.
Também há termos ou palavras que são equivalentes a números, por exemplo, século. Contudo, século e outros termos semelhantes são, frequentemente, só valores indicativos.
Século é usado em geral como expressão redonda de período, lapso, ou intervalo de tempo (aproximadamente cem anos – 100 anos).
Embora um milénio, por definição, seja um período de mil anos (1000 anos), é frequentemente unidade de contagem aproximada para períodos longos.
Há meio século (atrás) é uma expressão indicativa.
Meio século, oralmente, em princípio, não é sinónimo de cinquenta anos. Meio século é uma indicação de “cerca de cinquenta anos”.
Um decénio é um período de dez anos; geralmente, a expressão “há um decénio” não corresponde a exatamente dez anos.
Além disso, mesmo as medidas (comuns) expressas por números são expressões reduzidas, abreviadas, de um intervalo.
Em Metrologia, 2,5 não é a mesma coisa que 2,50. Em Metrologia, 2,5 é uma expressão abreviada de um resultado metrológico que, em princípio, está no intervalo [2,45; 2,55], um intervalo de 0,1 (unidade). Em Metrologia, 2,50 é uma expressão abreviada de um resultado metrológico que, em princípio, está no intervalo [2,495; 2,505], um intervalo de 0,01.
* Propriedade qualitativa – Propriedade dum fenómeno, corpo ou substância, a qual não pode ser expressa quantitativamente.
NOTA 1 Uma propriedade qualitativa tem um valor que pode ser expresso em palavras, por meio de códigos alfanuméricos ou por outros meios. [VIM 2012]
** Ou se diz a verdade, ou se fala de números, explicava alguém, comentando políticos.
Ou, noutro registo mais comum, “os números, bem torturados, dizem sempre o que nós queremos”.
O que medem as medalhas e as condecorações?, os diferentes tipos de medalhas e as variedades de condecorações?
Haverá uma métrica, um sistema de medição e de unidades de medida, para a atribuição de medalhas e condecorações? Ou é um exercício arbitrário, isto é, o critério da atribuição é a arbitrariedade (não confundir com aleatoriedade!)?
O que mede o número de medalhas de alguém e o número de medalhas distribuído pelo poder instituído*?
Por exemplo, no desporto e nas competições desportivas, os critérios de atribuição de medalhas são geralmente compreendidos e aceites (aceitos, em brasileiro). Fora destes meios a atribuição de medalhas poderá ser um processo polémico.
A oligarquia, endogamicamente, medalha-se a si própria; todavia, às vezes, medalha alienígenas de outros estratos politico‑socio‑económicos.
Há medalhas e condecorações dadas, e medalhas e condecorações retiradas: resultado de avaliações (medições) mal feitas?! Afinal, as medalhas e as condecorações medem o quê?
Ele há medalhinhas, medalhas e medalhões**. Umas e outros são distribuídos frequente e regularmente nas empresas, nas instituições e no Estado***. Com elas, por vezes também iam títulos nobiliárquicos: fidalguia pronta‑a‑exibir.
Antigamente, alguns dos títulos atribuídos eram títulos nobiliárquicos: por exemplo, o título de barão, um título corrente e frequente em certas épocas. A coisa chegou a ser tão banal, popular e endémica que, por exemplo, Almeida Garrett, referindo-se ao fenómeno de maneira irónica, chegou a avisar:Foge cão que ainda te fazem barão. (Ele próprio terá sido feito barão!)
Mas, para onde, se me fazem visconde?, interrogavam-se os cínicos; e com que avaliador, se ainda me fazem doutor?!, indagam os impertinentes contemporâneos.
Quantas mais medalhas e condecorações, mais o quê?
Há medalhas que são atribuídas quando o candidato atinge ou chega ao fim do respetivo prazo de validade, do limite de idade, ou do limite do tempo de serviço, ou outro marco temporal especial, mesmo que o seu desempenho tenha sido mediano, medíocre ou doloso, e mesmo que a sociedade em geral – se for caso disso –, ou a coletividade local, não lhe reconheçam mérito (especial) algum.
Fora do desporto, quem é que liga ou dá importância às medalhas? E, em geral, o que mede a quantidade de medalhas (militares, desportivas, económicas e outras)?
* Ser condecorado pelos vossos Presidentes da República não é currículo é cadastro, dizia um estrangeiro (maldoso?).
** Aparentemente ainda haverá a medalha do desdém: a medalha de cortiça.
*** Em Portugal, o Estado atribui regularmente condecorações, entre outras, através da Ordem do Mérito. Há quem pense que poderá ser um processo de autoatribuição de mérito que a elite, em geral, e a oligarquia em particular, faz a si própria.
E até os papas – Suas Santidades –, por vezes, se fazem santos uns aos outros.