Exatamente! – era a expressão com que o deputado costumava sublinhar passagens do discurso do chefe.
As “Ciências Exatas”, aparentemente, seriam mais confiáveis do que as outras.
“Exatidão” é termo metrológico, mas também termo comum.
Entre nós (em Portugal), “exatidão” parece ser mais frequente como termo popular e conceito comum do que como termo técnico, termo e conceito metrológicos.
Quem é que, frequentemente, num diálogo, ou numa análise, não se debate com a escolha e a utilização da “palavra exata”?!
Como termo metrológico, “exatidão” não é usado com frequência.
Correntemente diz‑se “precisão” quando o mais correto pareceria ser “exatidão”.
Por outro lado, correntemente, “rigor” parece ser sinónimo de exatidão.
O termo “exatidão” consta do VIM 2012*; “rigor”, não.
“Inexatidão” também não é termo metrológico, embora seja palavra comum corrente.
Comummente, na linguagem corrente, mas não no dicionário técnico de Metrologia (VIM), o termo precisão (que não consta no VIM 2008, mas é recuperado pelo VIM 2012) é, normal e popularmente, sinónimo de exatidão.
Embora, por vezes, se possa falar de “descrições exatas” como uma expressão simbólica, o termo exatidão (quase) só tem pleno sentido (e definição) na Metrologia.
“Rigor”, apesar de não constar no VIM 2012, pareceria ser sinónimo de “exatidão”, embora, para a maioria dos portugueses, “rigor” signifique intolerância, inflexibilidade, desumanidade: somos humanos, que se lixe o rigor, dizem muitos portugueses, letrados e iletrados, famosos e anónimos, responsáveis e cidadãos comuns.
Os portugueses, pela sua natureza (?) – não propriamente por má educação, má criação, ou falta de relógio – costumam chegar atrasados aos encontros e eventos, mesmo aos jogos de futebol, que, contrariamente a outros eventos, começam a horas. Pouca gente chega atrasada à missa**, ao tribunal, ou à paragem do autocarro.
Parece estar enraizado na linguagem e perceção de muitos metrólogos e medidores um paralelismo entre “medir” e a atividade recreativa de “tiro ao alvo”: a exatidão seria a maior ou menor proximidade do impacto do tiro em relação ao centro do alvo (ou epicentro do alvo, nos “mídia”). Contudo, no “tiro ao alvo”, sabemos onde está o centro; na “medição”, não sabemos onde está o valor verdadeiro*. E acaba aí o paralelismo entre (o) tiro ao alvo e (a) medição!
Quando fazemos medições, não sabemos onde está, ou qual é o valor verdadeiro (da mensuranda), por isso não se pode atribuir um valor à exatidão: fazê-lo significaria que se conheceria o valor verdadeiro*. Por isso, a exatidão é uma propriedade de medição (da medida) não quantificada.
* Exatidão de medição - Grau de concordância entre um valor medido e um valor verdadeiro duma mensuranda.
NOTA 1 A “exatidão de medição” não é uma grandeza e não lhe é atribuído um valor numérico. Uma medição é dita mais exata quando fornece um erro de medição menor. [VIM 2012; VIM – Vocabulário Internacional de Metrologia].
(Sublinhado do autor desta crónica.)
**Quem é que ainda não ouviu falar de pontualidade religiosa, de precisão cirúrgica e rigor financeiro?
Esta crónica está cheia de erros! E disparates. Mas, o autor rejeita as responsabilidades!
É assim: as medidas, as unidades de medida e alguns termos e temas metrológicos, entre outros, são muito maltratados nos média (media, em latim; “mídia”, em brasileiro e em português estrangeirado; /mídia/, em pronúncia inglesa da expressão media; “mídia”, nos … média).
Os mídia são do povo, para o povo e produzidos com o povo, dizem os autointitulados defensores, provedores, ou procuradores … do povo.
Os média não têm por missão ensinar, mas as pessoas – muitas pessoas – aprendem com eles. Aprendem, desaprendem, ou nunca chegam a aprender.
Eis alguns casos (incluindo frases de rodapé nos visores de TV, ou outros meios), eventualmente dignos de humor:
– Mulheres devem descansar 10 m ao chegar a casa. Descansar dez metros?! (10 m em vez de 10 min);
– “86 mil milhões de euros”, diz a voz‑off (expressão midiática); 86 MM€, em rodapé, em vez de 86 G€. Note-se: i – “M” é o símbolo SI para “milhão”; ii – pelas regras SI, não se juntam dois prefixos!; iii – se fosse permitido juntar dois prefixos, seria kM para designar “milhar de milhões”; correto seria: oitenta e seis mil milhões de euros, 86 G€ (oitenta e seis gigaeuros);
– 25° – temperatura máxima em Lisboa (graus de arco?); correto: 25 °C
– 40° centígrados (graus de arco centígrados?!). Correto: 40 °C;
– 25°C – 25 graus de arco coulomb?!, de Coulomb!?). Correto: 25 °C – vinte e cinco graus Celsius;
– 100 vátios, uma vez por outra, em vez de cem watts, 100 W;
– 405 kms, em vez de 405 km;
– 50 km de marcha femininos, em vez de 50 km de marcha feminina – o que será um quilómetro feminino?;
– 100 quilómetros-hora (100 kmh?!). Correto: cem quilómetros por hora (100 km/h).
Todavia, é correto dizer mil watts-hora (1000 Wh=1 kWh), ou um quilowatt‑hora, para referir a (quantidade de) energia consumida com o uso de um aparelho de potência de, por exemplo, 1000 W (poderia ser um ferro elétrico de engomar) durante uma hora (1 h).
“Os jogos Olímpicos de Tóquio de 2020 custarão 12 biliões de dólares, o que corresponde a cerca de 11 mil milhões de euros”, disse a jornalista. Conclusão: o dólar vale cerca de 0,001 €!, ou 1‰ do euro – sabemos que não!; o euro e o dólar são, por ora, da mesma ordem de grandeza.
Geralmente não se percebe, por exemplo, quando se ouve na TV que algo ocorreu num raio de 8 km, se não seria num diâmetro de 8 km. Ou num perímetro de 8 km, entre outras variantes geométricas.
O rigor ou é total, ou não é rigor.
Outras vezes são expressões ridículas, criadas e popularizadas pelos média: um atleta que conseguiu fazer os cem metros em tempo inferior ao recorde anterior em um décimo de segundo (0,1 s) passou a ser … “o homem bala”*!
* As balas, com frequência, têm velocidade superior a 1000 m/s à saída do cano. Ora, uma das últimas marcas na corrida dos 100 m foi 9,5 s, que corresponde à velocidade de cerca de 10,53 m/s, muito longe de 1000 m/s (3600 km/h).
Os cosmólogos dizem que o tempo – melhor, o espaço‑tempo –, nasceu com o Big Bang. E, até ver, parece ser uma boa narrativa.
E o tempo poderá ser retardado e acelerado? O tempo tem velocidade?
Ou são os fenómenos que podem ser acelerados e retardados?! Ou, nem isso!?
O tempo é relativo? Aparentemente – tanto quanto se sabe – seria, por exemplo, no sentido psicológico, e no sentido da conceção da Física Relativista (segundo Einstein, o tempo seria uma ilusão!).
E o calendário?, conta, ou mede* o tempo?!
Podemos medir o tempo sem relógio?!
Como se mede o intervalo “daqui a três semanas”? Com o calendário?!
Medimos o tempo contando oscilações, alternâncias regulares, batimentos de órgãos de algumas máquinas; contando repetições de fenómenos periódicos; contando vibrações de alguns corpos; contando saltos de algumas partículas subatómicas. E a idade do Universo mede-se pelo tamanho que este teria adquirido a partir do Big Bang.
Aparentemente, quando se mede o tempo, poder-se-á ter a sensação de que não há nada para medir, pelo menos com idêntica natureza fenomenológica, caráter sensível e identidade que apresentam, por exemplo, a temperatura, a pressão ou o comprimento. Em primeira instância, contamos voltas da Terra.
Aparentemente, (quase) todas as grandezas podem ser aumentadas, diminuídas e até mantidas constantes. Com o tempo (e a entropia, com que o tempo estaria relacionado), parece que não.
Efetivamente, ao contrário, por exemplo, da intensidade da corrente elétrica, da massa, e da velocidade, não é necessário apontar, encostar, ou circunscrever um corpo, ou uma região, para medir o tempo.
O que estará a medir, autisticamente, um relógio?
Em geral, contamos o tempo em minutos, horas, dias, anos, décadas, séculos e milénios (unidades que não pertencem ao SI), entre outras unidades, e medimo-lo em segundos (unidade de tempo do SI), décimos de segundo, centésimos de segundo, milésimos de segundo, e por aí fora.
A Terra é um relógio; a Lua é um relógio; os átomos são relógios; alguns elementos (químicos), por exemplo, os que se decompõem espontaneamente, são relógios.
Há fenómenos, entidades e processos que são usados para medir o tempo.
Há elementos químicos que não são estáveis e dos quais conhecemos o ”ritmo”, a “regularidade” e a “periodicidade” de alteração, de mudança. Tudo o que tiver “ritmo” poderá, com algum controlo, ser elegível para relógio.
Ninguém chama relógio à ampulheta, ou à clepsidra, mas estes dispositivos (também) servem para medir o tempo (cronológico)!
Sentimos a temperatura quando percebemos que há calor a atravessar‑nos a pele, ou ao contrário, calor a abandoná‑la – linguagem figurada! Porém, possuir esta sensibilidade não permite (à generalidade das pessoas) medir a temperatura.
E sentimos o tempo (cronológico), embora de modo diferente com que sentimos a temperatura: digamos que ele (o tempo, uma ilusão, segundo Einstein) é relativo e, aparentemente, com legitimidade científica.
Parece que o tempo, ao contrário do que a linguagem comum e sentimento geral fazem crer, não flui, como um fluido que se escoasse: é (só mais) uma coordenada de localização no espaço‑tempo.
*”Medir” – coisa complexa – é contar; “contar” – coisa simples – não é medir.
As democracias têm como uma das suas cara(c)terísticas mais relevantes a contagem de votos – um fator objetivo, simples e praticamente universal para medir os desejos, as vontades, as expe(c)tativas (dos votantes) de uma coletividade, comunidade, ou sociedade.
A meritocracia – um sistema em que prevaleceria o mérito como critério de acesso a escalões mais elevados de uma organização, nomeadamente a liderança –, aparentemente, pretende apresentar-se a todos e a si própria, como objetiva, impessoal e universal. E a meritometria seria o processo de medir, quantificar, ou estimar o mérito e, consequentemente, o critério de ascensão profissional.
A antiguidade (fator mensurável) já foi fator de promoção, hierarquização, ou de condição e critério para, por exemplo, complemento salarial, no emprego. Principalmente na função pública.
A antiguidade permite acumular experiências … antigas, com frequência experiências cada vez menos relevantes, pela obsolescência, inutilidade e ineficiência das mesmas (experiências).
Embora na carreira profissional a antiguidade esteja hipoteticamente ligada à experiência, parece que esta não seria, hoje, tão relevante como o mérito, enquanto critério de promoção e progressão profissional pessoal.
Em muitas áreas, estar familiarizado com as novas tecnologias, por exemplo, as de Informação, seria mais relevante do que a “experiência profissional”, seja qual for o significado que a isso se der.
O mérito, hoje, é referido e apresentado como o critério, a condição, sem opção admissível, para a avaliação do valor, capacidade e utilidade de alguém num grupo, numa rede, numa estrutura profissional.
Profissionalmente, medir a antiguidade é fácil, objetivo e inambíguo. Medir o mérito será menos objetivo do que medir a antiguidade.
Medir o mérito não é simples nem fácil, mas muito conveniente se formos nós, os interessados, a definir o mérito.
O que fazer com a “medida” antiguidade é uma questão aparentemente polémica, raramente integrando a “medida” do mérito.
Entretanto, a métrica do mérito, a medição do mérito, deveria ser:
1 – impessoal, para que seja independente de juízos subjetivos;
2 – objetiva, observável, confirmável por qualquer pessoa;
3 – quantificável, mensurável, ou estimável, sem polémica.
A medição do mérito poderá ser complicada: a avaliação do mérito é geralmente subjetiva, local, controversa, e até circunstancial e sujeita a distorções.
A avaliação do mérito é quase sempre polémica e relativamente fácil de manipular e instrumentalizar. É fácil e frequente, por exemplo, a mudança de critérios, ou a composição de fatores de avaliação do mérito. Com frequência, em muitos locais, comunidades e instituições, quem é incumbido de definir, objetivar e operacionalizar medidas baseadas no mérito é direta ou indiretamente parte interessada nos resultados das referências*, padrões e aferições.
*As elites costumam medalhar-se a si próprias. Em Portugal, o Estado atribui regularmente condecorações através da Ordem do Mérito.