Há mais moléculas de hidrocarbonetos por litro de gasolina no inverno, em Portugal – quando e onde a temperatura é mais baixa – do que no verão, quando a temperatura é mais alta.
Quem diz gasolina, diz, por exemplo, gasóleo.
Com um litro de gasolina no depósito do carro, em Portugal, esperaríamos ir mais longe no inverno do que no verão, por haver mais moléculas de hidrocarbonetos por litro (no inverno).
Propositadamente, nesta crónica, é deixada de fora, entre outros fatores, a evaporação dos combustíveis, mais intensa no verão do que no inverno!
O que deveríamos fazer seria comprar gasolina no inverno para consumir no verão.
Compramos gasolina ao litro e carvão ao quilograma (ao quilo). E também compramos o gás (de botija, embalado) ao quilo (ao quilograma). A gasolina e o gasóleo que compramos em quantidades avulsas, são vendidos e adquiridos ao litro!
Compramos gasolina ao litro e, no inverno, há mais moléculas de hidrocarbonetos por litro do que no verão: a gasolina é mais densa (tem maior massa volúmica, ou, inversamente, tem menor volume mássico) no inverno do que no verão.
Um quilograma de combustível no inverno pesa ainda um quilograma no verão; um litro de gasolina no inverno, guardado para posterior medição no verão, apresentar-se-á com um volume superior a um litro. No verão, os vendedores fornecem-nos um pouco menos de combustível, menos moléculas de hidrocarbonetos, por cada litro, do que aquele que nos fornecem no inverno.
Os combustíveis são fornecidos ao quilo (ao quilograma) aos aviões. Ao quilo (ao quilograma) é mais seguro para a distância que tem de ser percorrida, lá no alto.
Mantendo-se o preço (por litro), deveríamos comprar gasolina no inverno para consumir no verão. Contudo, razões de segurança, armazenagem, custos de oportunidade, escala, licitude e trasfega, não fariam desta atitude um grande negócio, um processo sensato, um processo seguro, uma decisão económica acertada, ou até um processo legítimo, para o cidadão comum.
Talvez fosse interessante haver uma compensação no preço por litro, ou um fornecimento por excesso, no verão. Todavia, para o cidadão comum, para o consumidor final, este procedimento poderia parecer ridículo. Para os vendedores, revendedores e petrolíferas, parece que não é ridículo, não é irrelevante, nem despiciendo. A temperatura ambiente parece ser um fator que entra no cálculo contabilístico do “deve e haver” de uns e de outros, petrolíferas, revendedores e vendedores de combustíveis.
Para muitos de nós, as despesas com combustíveis são significativas: gastamos mais em combustíveis do que em bacalhau, arroz, ou em legumes, entre outros produtos.
Por que não gasolina e outros combustíveis líquidos ao quilo?
O mercado está acostumado a vender-nos os sólidos ao quilo e os líquidos ao litro, mas, as tradições, em muitas áreas, vão sendo alteradas.
Os gases combustíveis, em garrafas e botijas, comprámo-los ao quilograma, ao quilo: por que não a gasolina e o gasóleo?
Comodidade e conveniência de produtores, distribuidores e revendedores; conformismo e resignação de consumidores.
Muitos pedreiros estendem e esticam um fio junto à parede que estão a construir para verificar se os tijolos, blocos, ou pedras estão alinhados, se seguem uma linha reta, nas paredes retas. Eles verificam e controlam, mas também poderiam medir o retilismo (retitude, linearidade), se estivessem preparados, se tivessem formação e se dispusessem dos instrumentos para tal, e se isso fosse pertinente.
Em vez de um fio, poderá ser um dispositivo LASER: technologie oblige.
Isto é Metrologia?
Com um fio que tem um “peso” numa das suas extremidades, alguns pedreiros verificam, e, se for preciso, corrigem a verticalidade, por exemplo, das paredes, e das colunas dos prédios, não só por motivos estéticos, mas principalmente por razões de estabilidade e segurança da parede e das colunas. Este dispositivo designa‑se por prumo, ou fio‑de‑prumo, mas o processo de verificar a verticalidade pode dispensar o fio‑de‑prumo de material natural ou polimérico e recorrer a um fio de luz, um LASER, por exemplo.
Pode medir-se o desvio de uma superfície, ou de uma coluna, à verticalidade.
Hoje, os fios-de-prumo tradicionais estão comummente reservados aos amadores de trabalhos de construção civil: os profissionais tendem a usar dispositivos de tecnologia mais avançada, por exemplo, tecnologia LASER.
Isto é Metrologia?
A horizontalidade – perpendicularidade relativamente à vertical de um lugar, caraterística de uma superfície livre de um líquido em repouso –, pode ser verificada e medida, por exemplo, com um nível (de bolha) apropriado, como alguns dos que são usados por pedreiros, e outros.
Há uma grande variedade de níveis (de bolha), de diferentes precisões (resoluções, repetibilidades, ou exatidões) e incertezas.
Fazer pontaria – fechar um olho (não confundir com vista) e verificar se dois determinados pontos, a mira e o ponto que pretendemos atingir, estão na linha (reta) que passa pelo nosso olho aberto –, ou usar um raio de luz, um LASER, como utensílio, ou dispositivo metrológico, para fazer um disparo, ou outro qualquer processo, é um procedimento muito comum.
Hoje, em muitos casos, um dispositivo, por exemplo, uma arma, que procuramos alinhar com um ponto para onde apontamos, dispõe de um LASER que nos limitamos a orientar e a verificar se incide ou não no ponto alvo.
Fazer (bem) pontaria, na guerra, pode ser a diferença entre matar ou ser morto.
Isto é Metrologia?
Também se pode verificar, controlar e medir a planeza, a caraterística que permite dizer se uma superfície é plana, melhor, se está muito ou pouco plana. Uma superfície pode ser vertical, horizontal ou inclinada e, além disso, pode ser ou não plana, como em geral e, aproximadamente, estão os tampos das mesas comuns, horizontais e planos, ainda que frequentemente de planeza e horizontalidade grosseiras. Com a mesa inclinada, o tampo continua plano.
Isto é Metrologia?
Frequentemente, duas paredes de uma casa, ou de um quintal, são planeadas e desenhadas para ficar em esquadria, orientadas em direções que fazem 90° entre si. E há dispositivos metrológicos, por exemplo, os esquadros, usados para verificar se duas paredes, ou outros pormenores geométricos estão em esquadria, se diferem angularmente de 90°.
Há por vezes a crença de que todos os instrumentos medem bem, mas acompanhada pela convicção de que os agentes das medições (metrólogos, metrologistas e medidores) é que poderão não ser confiáveis.
Um instrumento de medição é um aparelho, um dispositivo, um artefacto como muitos outros, embora fabricado, mantido e usado com cuidados especiais. Frequentemente, mais bem fabricado do que usado ou mantido.
Instrumentos de medição do mesmo tipo poderão ser muito diferentes entre si, dependendo da aplicação a que se destinam.
Muita gente se espantaria – mas nem toda! –, se visse alguém pesar objetos de ouro numa balança de supermercado.
Um instrumento de medição não é descrito completamente por uma única caraterística. Mesmo um instrumento tão simples como uma régua escolar, ou de escritório.
Um instrumento de medição mede grandezas entre dois valores limite de intensidade: um valor mínimo e um valor máximo, indicados pelo fabricante e, em geral, visualmente explícitos no instrumento. Frequentemente entre zero e um valor máximo. Por exemplo, uma fita métrica poderá medir entre 0 m e 1 m; uma outra entre 0 m e 2 m, ou outros limites máximos. Há micrómetros (instrumentos) que medem entre 25 mm e 50 mm, entre outros intervalos, por exemplo, micrómetros que medem entre 0 mm e 25 mm.
Por outro lado, por exemplo, nem todas as balanças reagem, mesmo que fracamente, ao peso, digamos, de um grão de arroz. A caraterística designada agora por limiar de mobilidade, – o menor valor que provoca uma resposta da balança – designava-se frequentemente por sensibilidade, embora esta palavra, constando no VIM 2012, não tenha agora, formalmente, este significado, em Metrologia.
A palavra “sensibilidade” não é aceite pelo VIM 2012 com o significado de limiar de mobilidade e a mesma (palavra) era somente desaconselhada, com este significado, pelo VIM 2008. Contudo, o significado de sensibilidade como limiar de deteção, é ainda usado em textos técnicos, em ambiente fabril e na linguagem (metrológica) oral. Muitos agentes envolvidos em medições continuam a usar este termo – sensibilidade – com o significado de limiar de deteção. É mais fácil eliminar palavras dos livros do que das mentes.
Sem aprofundar esta caraterística, nesta crónica, o conceito de sensibilidade, s (sob a forma diferencial, s=δI/δM, onde I é a indicação ou leitura e M o valor da mensuranda, ou da medida), está ligado ao poder de amplificação do instrumento. Num relógio com ponteiros, a sensibilidade é tanto maior quanto maior for o mostrador, ou a(s) circunferência(s) descrita(s) pelas extremidades dos ponteiros, isto é, quanto maiores forem os ponteiros.
Outra caraterística relevante de um instrumento de medição é a resolução (o VIM 2012 define duas). Qual é a menor variação de uma grandeza que um instrumento de medição pode medir com rigor? Numa régua escolar é quase sempre um milímetro (1 mm) e, num grande número de instrumentos usados em unidades fabris da metalomecânica, é um micrómetro* (1 µm = 0,001 mm). Num termómetro clínico clássico, geralmente a menor variação medida com rigor era meio grau Celsius (0,5 °C). Porém, os visores de alguns instrumentos poderão não comportar todas as casas decimais do resultado apurado.
*Micrómetro é também o nome de um tipo de instrumento comum nas metalomecânicas de precisão, a mesma palavra que serve para designar o milésimo de milímetro (µm).
“Medir” pode mitigar, ou evitar as consequências de processos catastróficos.
Os antigos tinham oráculos para a previsão do que poderia acontecer; hoje temos instrumentos de medição, talvez não tão convincentes, em alguns casos, como eram os oráculos. Por isso, ainda há oráculos. Bruxos e bruxas.
Os oráculos estão disponíveis e acessíveis ainda hoje, todos os dias, por exemplo, em meios de comunicação de âmbito nacional.
“Medir”, só por si, em princípio, não evita catástrofes, mas poderá diminuir, compensar ou anular os seus efeitos se forem estudadas soluções, tomadas as decisões e acionadas as medidas convenientes.
Medir a temperatura e a pressão do vapor de água de uma caldeira e vigiar, supervisionar, ou controlar a sua variação; medir a progressão de uma fissura numa barragem (não confundir com albufeira) e medir a variação da pressão atmosférica numa região, poderão evitar, minimizar, ou alterar eventuais efeitos catastróficos.
Ler os astros, ter premonições e confiar na experiência ou intuição própria, ou alheia, não são caminhos seguros para fazer previsões.
Não há vias formais, seguras, para prever o futuro, mas eventuais extrapolações feitas com base em medições podem proporcionar algumas opções de soluções viáveis, razoáveis, aconselháveis.
“Medir” é conhecer, é estar informado, é poder estar prevenido.
Medir pressões e temperaturas atmosféricas poderá revelar indícios de tempestades e ajudar a tomar providências para evitar, ou, pelo menos, minimizar os eventuais efeitos catastróficos.
Os barómetros e higrómetros caseiros permitem prever o tempo (atmosférico).
Detetar e medir um determinado tipo de vibrações no solo permite prever a ocorrência de terramotos e fazer avisos oportunos e pertinentes.
Medir pressões, temperaturas e outras grandezas, numa central térmica, ou outros centros de controlo, permite fazer comparações com valores críticos previamente estabelecidos e evitar avarias, desastres, ou catástrofes.
Fazer medições periódicas da pressão arterial e de outras variáveis corporais das pessoas, poderá permitir tomar medidas, precauções, que evitem a ocorrência de incidentes ou acidentes orgânicos suscetíveis de provocar danos irreparáveis na saúde, eventualmente irrevogáveis, ou irreversíveis na integridade fisiológica e física de cada pessoa.
Sem medições, a Medicina seria uma arte.
Em geral, a prevenção só é possível com medições.
A longevidade e o acréscimo da esperança de vida dos humanos também são devedores das medições. As medições estão na base da medicina preventiva.
Medir determinadas grandezas em algumas peças de aviões, ou de outras máquinas, regular ou condicionadamente, poderá evidenciar algum aumento do risco de colapso.
As medições permitem detetar inconformidades, eliminar irregularidades e ajudar a prevenir catástrofes.
Os Centros de Inspeção Periódica Obrigatória das viaturas automóveis fazem medições para detetar irregularidades, anomalias, ou desvios relativamente a valores de referência, para eventual correção e prevenção de avarias e acidentes.
Medir a evolução da concentração de uma substância no ar, na água de um rio, ou de um mar, permite remediar situações críticas, dramáticas, ou trágicas.