Precisão é um termo ou palavra frequentemente usada em relação às medições: alta precisão, média precisão e baixa precisão, por exemplo.
Algumas vezes ouvimos e lemos que medições de grande precisão revelaram isto, aquilo, ou aqueloutro.
Quem é que não se orgulha de, por exemplo, trabalhar na indústria de alta precisão? Ou de ser operador de máquinas de alta precisão?
Contudo, quando se pergunta às pessoas que medem e que usam a palavra precisão o que é que ela significa, ou não sabem, ou a resposta não é clara, nem esclarecedora, nem conclusiva. Mesmo os especialistas.
Se não se sabe o que significa precisão, não faz sentido falar em alta, média, ou baixa precisões, ou, até, usar o termo.
Mas o termo está enraizado na linguagem geral dos especialistas e de outros agentes familiarizados com as medições e com a terminologia corrente sobre as medições.
O termo precisão é vago, impreciso e não figura no VIM 2008 – Vocabulário Internacional de Metrologia, versão do IPQ de 2008. Aliás, aparece uma só vez para referir que não deve ser usado! Porém, o termo precisão figura quarenta e três vezes no VIM 2012, versão conjunta do IPQ e do INMETRO (Brasil)! Apesar de ambíguo, o termo precisão está oficializado!
Frequentemente, quem diz precisão quereria dizer exatidão, ou resolução, ou sensibilidade, ou incerteza, ou fidelidade, ou repetibilidade (repetividade), conforme o caso. E todos estes termos são relativos a conceitos distintos, e cada um, evidentemente, com significado próprio e explicitado.
Algumas vezes, precisão é termo usado para referir medição com instrumento de poder resolvente elevado (grande resolução, baixo valor da resolução).
Outras vezes, uma medição de precisão é um processo de medição em que a incerteza tem valor reduzido. Neste caso, a precisão – se fosse necessário manter o termo ou palavra – poderia ser, aritmeticamente, o inverso da incerteza: quanto menor a incerteza, maior a precisão.
Em muitas situações, alguns destes conceitos são simultaneamente relevantes numa medição, outras vezes, não. Por vezes, não explicitamente, o termo precisão é usado com o significado de indicador da dispersão de resultados das medições, que os VIM designam por repetibilidade.
E é a este conceito – repetibilidade – que o VIM 2012 cola o termo precisão!
Investigando, descobrimos que frequentemente o termo “precisão” é usado com o significado de exatidão, precisamente a aceção proscrita pelo VIM 2012!
Com tantas aceções ou significados, é melhor não usar o termo “precisão”, para evitar erros, confusões e ambiguidades.
Em medições de grande responsabilidade, nomeadamente em Ciência, são indicados os valores de algumas das grandezas referidas, por exemplo, incerteza, resolução e repetibilidade, sem necessidade de se falar de precisão!
Um tostão era um décimo de um escudo, a moeda portuguesa de antes da adesão de Portugal ao euro (€). Dez tostões perfaziam um escudo.
O tostão era ainda mais popular do que o escudo. Muitas máximas, ditados e ditos populares recorriam ao tostão, e não ao escudo.
No passado ouvia-se frequentemente aquele tipo de pedido, principalmente nas mercearias de aldeia, na compra de açúcar, arroz e café, por exemplo.
Comprava-se com frequência ao escudo, ao tostão, e não ao quilo, nem ao quilograma.
Ainda hoje se compra quarenta, trinta, ou cinco euros de gasolina, ou gasóleo. Aparentemente, a maioria dos automobilistas compra combustível ao euro, não ao litro. É cómodo e prático por que permite fazer o pagamento com quantias redondas e não provoca o desconforto de sabermos quanto pagamos a mais do que no mês anterior pela mesma quantidade de combustível. Nem se nota que o preço do combustível sobe! Contudo, os cartões bancários estão a simplificar, entre outros produtos, a compra de combustíveis: atestamos o depósito sem reparar na quantidade de litros adquiridos nem no número de euros gastos.
Alguns produtos embalados, nos híper e supermercados, por exemplo, são marcados, destacadamente, em unidades monetárias: um pedaço de abóbora por 1 €, um molho de grelos por 0,80 € e enchidos de vários tipos a 1,5 € cada.
O importante é medir; a unidade parece ser “menos importante”.
Se se pode transformar gramas em libras, metros em polegadas e litros em galões, por que não litros em escudos e gramas em tostões?! Claro que, mudando o preço do produto, concomitantemente muda a equivalência entre tostões e gramas, entre euros e litros!
Aquele tipo de pedido – cinco testões de açucre – era muito cómodo, mas a comodidade tem custos! Para o cliente era muito interessante, mas seria muito mais proveitoso para o vendedor: os arredondamentos, generosos, eram feitos à medida de quem fazia o cálculo. Com frequência, o cliente nem se preocupava com o preço do produto por quilo, e ainda hoje há muitos que não têm tal preocupação.
Hoje, as equivalências entre euros e litros de combustível, por exemplo, são feitas por sistemas automáticos, sem intervenção direta do vendedor, e o risco de sermos lesados, por via das equivalências entre unidades metrológicas e unidades monetárias, é teoricamente nulo.
A unidade monetária, o euro, por exemplo, é muito conveniente e útil para outras atividades que não só o comércio. Através do euro, como através de outras unidades monetárias, podemos estabelecer equivalências entre “litros de óleo”, “quilos de aço”, “quilowatts-hora de energia” e “homens-hora de atividade”, como se faz, por exemplo, nas empresas fabris para apurar o custo de um produto, ou de um serviço. Na área da Contabilidade Analítica, entre outras, podemos somar “quilos de cobre” com “litros de mercúrio” e com “megajoules de energia”, por exemplo.
Uma unidade monetária permite medir todos os fatores de produção, por mais distintas que sejam as grandezas respetivas.
Ao peso, ou à unidade? – perguntamos, por vezes, ao vendedor. Ao quilo ou ao molho, por exemplo.
Um quilo de cebolas é cebola ao peso ou à massa? – perguntam muitos. Compramos segundo a massa ou segundo o peso?
Para o “grande público”, massa é dinheiro. Pesado é o que já passou pela balança.
Quilograma – vulgo, quilo – é a unidade de massa no SI (Sistema Internacional de Unidades). O quilograma-força (kgf), unidade (de força) num sistema diferente do SI, é a força gravitacional terrestre que se exerce sobre o quilo.
Se pagamos a massa do pedaço de carne que adquirimos, por que chamar-lhe peso, uma força? Será mais um caso, entre muitos, de expressão popular desadequada?
Para o “grande público”, peso não é massa nem força: é o que a balança indica.
O peso é uma grandeza vetorial; a massa é uma grandeza escalar. Peso é a medida que mostram os visores das balanças. Não há ninguém que não saiba o que é o peso.
Mas por que não se compra em moles?, sendo a mole – o mol, em brasileiro – símbolo SI, mol, a unidade de substância. Uma mole tem o mesmo valor em toda a parte!
Muitas palavras não significam o mesmo para um cidadão comum e para um técnico.
Contudo, no comércio não se fala em massa: só peso. Com massa pagamos o peso.
Mas, medimos a massa através do peso. O peso é a força gravítica subtraída da impulsão do ar (tudo está imerso no ar).
Uma balança como as dos supermercados – um dispositivo dinamométrico –, sem alteração da afinação (após calibração), daria os mesmos resultados a nível do mar e no pico do Evereste? Seguramente que não, quer pela atração gravítica – menor no pico do que ao nível do mar –, quer pela densidade (massa volúmica) do ar. Ora a massa, tirando pormenores ou pormaiores relativísticos, é constante.
As balanças respondem às pressões (forças) de um dedo e apresentam um valor, ou leitura, para cada pressão (força): qual é a massa do dedo?
Que valores leria o paraquedista na balança que o suportasse, colocada sobre o alçapão do avião de onde se deixa cair, antes e depois da abertura do mesmo alçapão? Não, na verdade não há alçapão! Mas, se houvesse?, e se houvesse ainda uma balança, como as que usamos para nos pesarmos em casa?!
Do ponto de vista teórico pode considerar-se 2 massas: 1 – massa inercial (m=F/a, de F=m·a, força=massa·aceleração); 2 – massa gravitacional (m=F·d2/(G·M), de F=G·m·M/d2, força gravítica). A primeira – massa inercial – é uma medida da resistência de um corpo ao movimento, a segunda – massa gravitacional – é um dos fatores que determinam a força gravítica sobre um corpo.
Parece haver uma só massa verdadeira, e duas grandezas mássicas distintas: 1 – a que é responsável pela inércia; 2 – a que responde à gravidade. Duas massas distintas, mas, aparentemente, uma só massa verdadeira. Qual é que compramos?
Quase todas as balanças modernas são dispositivos dinamométricos: reagem às forças, todavia as escalas das balanças são graduadas em unidades de massa. Uma balança resolve a equação m=F/g (massa=peso/aceleração da gravidade); do mesmo modo que um termómetro de mercúrio mede o comprimento da coluna do mesmo (mercúrio), mas está graduado em unidades de temperatura.
Contudo, cinco quilos de maçãs, por exemplo, transportadas à cabeça, pesam quase cinquenta newtons!
Seis colheres de sopa de farinha; um cálice de vinho do Porto de xarope; quatro colheres de chá de vinagre; um copo de vinho de água; duas chávenas de café de azeite; uma pitada de pimenta; uma mão cheia de sal.
As receitas culinárias estão cheias destas medidas e destas unidades.
A culinária é um mundo muito especial, mesmo a culinária da restauração.
Os cozinheiros, cozinheiras, chefs e aprendizes em cursos de culinária parecem confortáveis e felizes com estas unidades. O grande público, também.
A colher de sopa é uma unidade de medida corrente em culinária e até em Farmacologia; as outras unidades, tais como a colher de chá, ou a chávena de leite são também correntes em várias outras áreas.
Estas unidades e medidas parecem não levantar dúvidas nem dificuldades a quem tem de as levar à prática: aparentemente as quantidades estão bem definidas.
O resultado é variável e expectável relativamente às muito apreciadas comidas caseira e regional: em algumas ocasiões ficamos encantados com o cozinhado, em outras, nem por isso.
É frequente, no mesmo restaurante, em diferentes ocasiões, o mesmo prato levar a muito diferentes apreciações.
As colheres de sopa não são todas iguais, e a mesma colher cheia comporta diferentes quantidades, quer de líquidos, quer de farinhas, ou de grãos. Porém, são unidades correntes, úteis e fáceis de reproduzir, desde que não se tenha pruridos de rigor. De resto, outros fatores têm efeito relevante sobre o resultado: tempo de cozedura, assadura, ou fritura e a quantidade de calor fornecida ao cozinhado, por exemplo. Para um cozinhado, estes fatores são também geralmente incertos e imprecisos; pode acontecer que o excesso de uns fatores compense a deficiência dos outros, ou agrave a deficiência. Além disso, a qualidade da comida caseira tem um intervalo de variação tão grande que agrada sempre a um certo número de pessoas: basta que a comida seja caseira, seja lá o que isso for.
Numa casa comum, as colheres e chávenas, por exemplo, estão amplamente disponíveis e mais à mão do que as balanças e os copos graduados.
Todavia, não há maior conforto, nas medições, do que as que são baseadas em unidades normalizadas, como as do Sistema Internacional de Unidades (SI), e, naquelas mesmas áreas, já há referências culinárias a quantidades expressas em unidades correntes do sistema nacional de unidades, baseado no sistema SI.
Na produção de comida industrial – muita, segura e com qualidade – são usadas unidades do Sistema Internacional de Unidades. Por exemplo, para a fritura das batatas aos palitos estão estabelecidos inequivocamente os calibres dos palitos, a temperatura e o tempo da fritura. Estão ainda estabelecidos os períodos durante os quais as mesmas estão disponíveis para os consumidores: para além desse período as batatas são retiradas do circuito do consumo deixando de ser vendidas aos clientes.
Na comida industrial é mais importante a inteligência das técnicas, métodos e procedimentos do que a perícia, a arte e o talento dos cozinheiros; na comida industrial a execução de uma refeição não depende do cozinheiro: muitos dos executantes poderão ser teórica e praticamente técnicos indiferenciados.
Só as medidas são comparáveis, as opiniões gastronómicas e outras, não.