O barómetro, melhor, a palavra barómetro, entra em muitas expressões onde o mesmo termo – barómetro – não significa instrumento de medição, nem está relacionado com a Metrologia. A apropriação do termo por vários setores é uma cedência ao desejo, à intenção e à presunção de medir.
A palavra barómetro tem frequentemente o significado de indicador, índice, medida, sem carácter metrológico, mas com a pretensão de quantificar.
Embora quantificar não seja medir, há barómetros políticos, da saúde e da educação, por exemplo.
Há barómetros para o mercado imobiliário, para a confiança do cidadão e para a economia, por exemplo.
Há até o eurobarómetro, entre muitos outros critérios e tentativas de ordenar, hierarquizar, sentir a evolução de algumas entidades geralmente definidas de múltiplos modos.
Um barómetro é um instrumento de medição da pressão atmosférica. Um instrumento para a medição da pressão de um fluido, por exemplo, do ar, num pneu de um carro, ou na rede de ar comprimido da oficina, chama-se manómetro. Para a medição da pressão arterial sanguínea usa-se um esfigmomanómetro.
São várias as unidades de pressão correntes entre nós: milímetro (de coluna) de mercúrio (mm Hg); atmosfera (equivalente à pressão de uma coluna de setecentos e sessenta milímetros de mercúrio, 760 mm Hg); bar (equivalente à pressão de uma coluna de cerca de setecentos e cinquenta milímetros de mercúrio, ≈750 mm Hg); centímetro (de coluna) de mercúrio (cm Hg); metro (de coluna) de água (m H2O); pascal (newton por metro quadrado, unidade SI); psi (libra por polegada quadrada, unidade de pressão do sistema de unidades inglês, ou imperial).
Todavia, na linguagem corrente, o termo barómetro é usado para designar uma escala, um ranking, um indicador que caracterize algum estado, situação ou evolução de um sistema, um mercado, um ambiente. O termo é frequentemente usado, em sentido figurado, em áreas que têm frequentemente por base a economia.
Até o rabo do gato (sic), para alguns, pode ser um barómetro do estado de espírito (sic) do gato!
Em tempos, em muitas casas havia barómetros que, a par dos higrómetros que os acompanhavam, além da pressão atmosférica, davam indicações previsionais do estado do tempo atmosférico, um sistema complexo, como é sabido.
A adoção, generalização e banalização da palavra barómetro dever-se-á à presença do referido instrumento em muitas casas e, em associação com o higrómetro, às indicações do estado do tempo. Por extensão, a palavra, conhecida por muita gente, passou a ser usada em outras situações que não o estado climático.
Agora também já se usa o termo termómetro, mas o (termo) barómetro é o prevalente para referir uma medida que … não é medida nenhuma, ou, não é uma medida na aceção ou sentido metrológicos.
Hoje, quase toda a gente sabe o que é o barómetro; pouca gente saberá o que é um barómetro.
Quando fazemos várias medições, os resultados, em geral, não são coincidentes. Com diferentes instrumentos, métodos e metrologistas, não haverá sempre um só valor e um só número para as várias medidas da mesma mensuranda (mensurando, em brasileiro).
Seria desejável que assim fosse, que houvesse um só valor, contudo, as medições apresentam sempre incerteza, variações e, frequentemente, erros.
Quando medimos o diâmetro de um cilindro poderemos encontrar diferentes valores das medidas porque, por exemplo, o que nos parece um cilindro poderá ser um barril, um tronco de cone, ou outra forma que, à vista, passa por cilindro.
As medidas variam e através (do cálculo) da sua repetibilidade e (do cálculo) da sua reprodutibilidade podemos tirar conclusões sobre o grau de confiabilidade das mesmas medidas.
Correto seria apresentar os resultados das medições por um intervalo de valores, o intervalo onde admitimos que a putativa medida verdadeira se encontraria. Todavia, isto seria bizarro se fosse prática corrente do supermercado, apesar de, por vezes, lá encontrarmos embalagens com a indicação “±500 g”, por exemplo.
Nada disto tem a ver com o que com frequência ouvimos sobre “dois pesos e duas medidas” – o peso é uma medida, e a medida era uma capacidade, um volume!
Esta expressão – dois pesos e duas medidas – exprime desapontamento, crítica e denúncia por algum processo que, afinal, não tem relação com medições.
A expressão refere-se, comummente, à utilização de critérios discordantes, eventualmente opostos, inconsistentes, variáveis, na apreciação, avaliação, ou decisão acerca de problemas, disputas e situações em que não há medições nem medidas, e nada tem a ver com a Metrologia.
A expressão aplica-se, idiomaticamente, à dualidade de critérios, na política, na gestão e em qualquer área onde haja lugar a decisões. Decisões inconsistentes.
Contudo, esta expressão tem uma origem bastante prosaica, ligada à fraude e ao dolo, no comércio, quando os instrumentos não estavam tão disseminados, vulgarizados e banalizados como hoje, e quando poucas “coisas” eram medidas.
Houve tempos em que alguns comerciantes tinham instrumentos com que pesavam ou mediam o que compravam, e outros instrumentos – ou os mesmos, afinados de modo diferente – para medir o que vendiam.
Os instrumentos que alguns comerciantes usavam como compradores mediam por defeito, isto é, mediam menos do que o valor real; os instrumentos que os mesmos comerciantes usavam como vendedores, mediam por excesso, isto é, mediam mais do que o valor real. Seria um modo irregular de estar no comércio, já que tais comerciantes pagavam e recebiam de acordo com as medições que os mesmos faziam.
Hoje, as fraudes com medições serão mais sofisticadas e menos comuns.
Hoje, os instrumentos usados no comércio legal são calibrados, aferidos, verificados e eventualmente certificados por uma entidade independente dos vendedores e dos compradores.
“Dois pesos e duas medidas” não é expressão da área da Metrologia, embora a reprodutibilidade de algumas mensurandas e a complexidade dos métodos de medir e as especificidades dos metrologistas por vezes conduzam a resultados e medidas ligeiramente discordantes.
A farmácia anunciava 100 ML de um diluente por 1,89 €.
Era um anúncio numa farmácia de grande cidade, não num bazar, nem numa drogaria de bairro de subúrbios.
Publicidade enganosa com símbolos SI (Sistema Internacional de Unidades)?
100 ML, cem megalitros, é uma grande, uma enorme quantidade: são cem mil metros cúbicos: 100 ML = 100x106 L = 100x103x103 L ≡ 100x103 m3 = 100 000 m3.
Presume-se que a intenção seria anunciar cem mililitros, 100 mL (100x10−3 L = 0,1 L = 1 dL), um décimo de um litro, por 1,89 €. Contudo, a publicidade comporta informação e sedução, nem sempre em proporções iguais.
O cliente, fingindo-se convencido da veracidade e correção do anúncio, perguntou se levavam o produto a casa.
– Mas é um frasquinho pequeno! – informou a farmacêutica, presume-se que mestre, como quase todas as outras balconistas nos outros postos da mesma farmácia.
– Peço perdão, disse o cliente, mas, cem milhões de litros (100 ML) não é coisa pouca, ou pequena.
– Não são cem milhões de litros – que disparate! – são cem melelitros (100 mL).
– Não é isso que está no vosso anúncio – retrucou o freguês.
– Ora, ora – insistia a farmacêutica do alto da sua autoconfiança seguramente consolidada, não se sabe como, por quê nem por quem.
Esta publicidade está em desacordo com o que é publicitado.
Este anúncio seria elegível para o rol dos casos de publicidade enganosa? Seria passível de queixa formal? Os símbolos das unidades e dos prefixos que frequentemente os acompanham têm significados claros e rigorosos e constam de diploma legal! Seria desculpável haver sinais de trânsito trocados, na estrada?
Estes incidentes deveriam ser comunicados às instituições que tutelam os estabelecimentos e as dos seus profissionais?
A diferença entre as quantidades representadas pelo mililitro (mL) e pelo megalitro (ML) é abissal, mas há outros casos em que a confusão é seguramente possível em caso de ignorância: por exemplo, entre 1 dL (decilitro, um décimo do litro), e 1 daL (decalitro, dez litros, ou dois garrafões comuns).
Se não era publicidade enganosa, seria então ignorância básica, elementar e indesculpável num estabelecimento comercial servido, seguramente, por colaboradores qualificados e, todos ou quase todos, diplomados de muito alto nível.
Pode fazer-se publicidade enganosa a coberto de ignorância? Pode-se alegar ignorância da lei? Os símbolos das unidades de medida e os prefixos que frequentemente as acompanham estão legislados!
Por extensão, escreve-se, por exemplo, 1 M€, para representar um milhão de euros. Por sua vez, 1 m€ seria um milieuro, que não tem existência material, não pode ser realizado em moeda física, porque a moeda mais baixa é o cêntimo, 1 c€. E, ainda assim, esta moeda não está disponível em todos os países da Zona Euro, na Europa.
Nota: L deve ser preferido a l como símbolo de litro: l confunde-se facilmente com 1.
Eu sei o que é o tempo, mas se mo perguntam, já não sei, teria dito Santo Agostinho.
Não percebo porque se perde tanto tempo a discutir o tempo, que não é nenhuma entidade metafísica, é apenas uma empresa de demolições, sugeriu António Lobo Antunes.
Apesar de Newton, de Kant e de Einstein, para o cidadão comum atual o tempo continua a ser a mesma incógnita e a mesma banalidade que terá sido desde sempre para o Homem.
Mesmo não sabendo o que é o tempo, medimo-lo. Os relógios medem o tempo em contínuo, uniforme e monotonamente, sempre a subir. O tempo só anda para diante, exceto em algumas equações da Física!
Podemos baixar ou subir a temperatura de um corpo; o tempo de vida de qualquer coisa – uma pedra, uma árvore, um animal – está sempre a aumentar.
Além disso, o tempo relativista, num referencial, dependeria da velocidade do mesmo referencial. Cada referencial, cada relógio.
Um relógio parado está certo duas vezes por dia.
Um homem com um relógio sabe que horas são; um homem com dois relógios nunca tem a certeza.
O relógio – um artefacto – é certamente o instrumento mais comum, banal e popular para a medição do tempo. E, provavelmente, o mais comum entre todos os instrumentos de medição. Todavia, para os portugueses, os relógios servem sobretudo para medir os atrasos!
O cronómetro também goza de alguma popularidade, banalidade e generalidade.
Mas medimos a idade de uma múmia através do carbono 14; medimos a idade de uma árvore contando os anéis que ficam expostos quando seccionamos o caule; a duração de algumas provas com ampulheta ou com clepsidra; e a idade do Universo pode ser medida pela meia-vida de alguns elementos químicos.
Muitos medem o tempo pelo movimento do Sol.
Em princípio, um fenómeno periódico, como, por exemplo, o movimento da lua, o movimento aparente do Sol (ou movimento de rotação da Terra), as gotas de água que escapam de recipientes furados e de torneiras, o batimento cardíaco, alguns dos períodos da radiação do átomo de césio 133, entre muitos outros, poderão ser usados para a medição do tempo.
Não medimos o tempo da nossa vida com relógio: os relógios em geral não dão anos.
Também não medimos o tempo geológico, nem o tempo cósmico com relógios.
O tempo de espera – no consultório médico, na escola que vai afixar a nota do exame e na sala de escrutínio da votação para a autarquia – também não é medido pelos relógios e é frequentemente referido em unidades de tempo do tipo: momento, momentinho,instante, instantinho, minutinho e segundinho e eternidade, por exemplo.
A eternidade é um intervalo de tempo, geralmente curto, que dura o lapso de tempo que leva a conhecermos a decisão de alguém para um rumo da nossa vida.
Alguns avisos, como Abertura às 14H00, pretendem referir-se a tempo, mas estão expressos em unidades eletromagnéticas: H é o símbolo de henry, a unidade de indutância, uma grandeza eletromagnética. Correto seria Abertura às 14 h 00, onde está implícita a expressão 14 h 00 min. Mas, só os chatos insistem em falar disto!
Arquimedes pesou a coroa do rei – na altura havia mais reis por quilómetro quadrado (“reis/km2”) do que hoje – mas, durante algum tempo, teria sido incapaz de medir o volume da mesma coroa – uma coroa tem frequentemente muitos e caprichosos pormenores. Até que – Eureka! –, saiu da banheira para a rua a gritar, a celebrar, a disparatar: descobri!, descobri!
Mergulhando um objeto num recipiente completamente cheio de água, a água que transborda tem um volume igual ao do objeto que lá mergulhamos. Conhecidos o peso e o volume de um corpo calculamos a sua massa volúmica (densidade) e ficamos a conhecer qual a natureza do material: o ouro, a prata e o latão, por exemplo, têm massas volúmicas (densidades) diferentes.
O princípio de Arquimedes é outro assunto e parece ter este nome por deferência, homenagem e consideração por este homem extraordinário.
Arquimedes não mediu o volume da coroa: terá medido o volume da água deslocada pela coroa. Terá medido o volume da coroa por portas travessas.
Se Arquimedes dispusesse de recipientes graduados como temos hoje nos laboratórios, nas farmácias e nas cozinhas, não teria tantas dificuldades com a coroa do rei, nem teria a explosão de alegria, nem daria o espetáculo indecoroso de correr nu pela rua. Parece que o ouro da coroa era marado e o ourives não se terá safado.
Agora medimos quase tudo por portas travessas: a medição da temperatura corporal com termómetros clínicos clássicos é feita através da medição do comprimento de uma coluna de mercúrio dentro de um tubo capilar; a alcoolemia do sangue é medida através da alcoolemia do ar expirado – o bafo –, e a idade da Terra pode ser medida através da percentagem de chumbo num determinado mineral.
Um instrumento de medição resolve uma equação. Por exemplo, o termómetro clínico de mercúrio resolve a equação ΔV = Δθ·V0·γ. O comprimento da coluna de mercúrio – que tem uma relação simples com a variação de volume ΔV de mercúrio em um termómetro clínico – mede a variação da temperatura Δθ a que o mercúrio é sujeito.
Outros instrumentos resolvem outras equações.
A cor de um corpo radiante, a temperatura elevada – indicativamente, acima de 600 °C –, tem correspondência com a temperatura desse mesmo corpo. A cor revela a temperatura.
É quase tudo medido por portas travessas.
Pode-se medir a altura de uma torre medindo o comprimento da sua sombra no chão, e comparando-a com a sombra de uma vara ou objeto de altura conhecida.
Mede-se o peso de um melão medindo a alteração ocorrida num circuito eletroeletrónico integrado numa balança, como as balanças comuns dos supermercados: o peso revela a massa.
A altitude de um monte mede-se frequentemente a partir da diferença entre as pressões atmosféricas ao nível do pico e ao nível do mar.
A velocidade de rotação do motor de um carro, associada aos sistemas de transmissão, permite conhecer a velocidade (de deslocação) do mesmo carro. O valor ou medida desta velocidade fica porém comprometida se a pressão e tipo dos pneus indicados pelo fabricante não forem respeitados.
Recorrer aos conceitos de medição direta e medição indireta seria outra abordagem, de entre várias outras possíveis, mas isso valeria outras crónicas.