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Medidas e medições para todos

Crónicas de reflexão sobre medidas e medições. Histórias quase banais sobre temas metrológicos. Ignorância, erros e menosprezo metrológicos correntes.

Medidas e medições para todos

Crónicas de reflexão sobre medidas e medições. Histórias quase banais sobre temas metrológicos. Ignorância, erros e menosprezo metrológicos correntes.

O TAMANHO IMPORTA

O TAMANHO IMPORTA

Quando a altura conta

 

Os homens – e as mulheres – não se medem aos palmos: entre nós, medem-se ao metro. E, por vezes, a altura, e ainda outras dimensões, contam.

Em geral, as medições não são críticas, contudo os resultados das medições poderão ser críticos. Entretanto, os bons modos de alguns intervenientes podem ajudar a alterar os resultados das medições, as medidas.

A menina era modelo. No seu BI constava que media um metro e setenta e cinco (1,75 m) de altura, o valor mínimo para ser modelo, parece.

A menina deixou caducar o BI e quando foi requisitar um novo BI, no tempo dos BI, foi medida de novo. O funcionário deu--lhe 1,74 m. A menina protestou: que estava mal medida. Com 1,74 m não poderia continuar a ser modelo – a altura mínima para aquela atividade seria 1,75 m – e, por isso, protestou e protestou. E protestou no livro de reclamações.

Passados alguns dias foi convocada para se apresentar perante dois peritos encarregados de dirimir a controvérsia acerca da medida da sua altura.

Medição feita com procedimentos estatuídos, os peritos deram-lhe 1,73 m, valor inapelável, irrevogável, definitivo.

O primeiro funcionário ainda teria confidenciado: – Se ela tivesse pedido com bons modos!

Medir não é fácil e, por vezes, os bons modos ainda poderão sobrepor-se aos resultados das medições, entre outros milagres.

Um outro cidadão, em outro tempo, estaria a ser medido por alguém de serviço que anunciou: um metro e sessenta e dois (1,62 m). – Só?!, comentou, desapontado, o cidadão. – Pronto, um metro e sessenta e cinco (1,65 m), emendou, cooperante, a funcionária.

Não é só na profissão de modelo que a altura conta. Contudo, por vezes, o importante não é quanto medimos, mas quanto nos dão os metrologistas, metrólogos, ou agentes medidores.

Na área científica, não são raras as imposturas que consistem na fabricação de determinados resultados, para que se concatenem com fórmulas, modelos e teorias. Todavia, a necessária repetibilidade das medidas, a objetividade de resultados e a transparência de procedimentos que caracterizam o meio científico acabam, mais cedo do que tarde, por desmascarar as fraudes.

Notas:  

  1. – O autor esforça-se por que os termos que usa nestas crónicas tenham o rigor que o Vocabulário Internacional de Metrologia e outros documentos de carácter normativo internacionalmente aceites estipulam;
  2. – De acordo com o ponto 1, por exemplo, a expressão “1,74 m” tem a estrutura geral de uma expressão    metrológica: um/vírgula/sete/quatro/espaço/eme minúsculo.

 

2015-09-24

TODOS MEDIMOS, TODOS OS DIAS

TODOS MEDIMOS, TODOS OS DIAS

Quase tudo é medido, ou contado

 

Todos medem, mesmo os que não sabem medir. Todos os dias fazemos um grande número de medições.

Usar um prumo, na construção de um galinheiro, ou um fio esticado, na construção de um canteiro, ou um nível para assentar algumas plaquetas, por profissionais ou por amadores, é recorrer a técnicas, métodos e procedimentos metrológicos.

Quem é que não sabe tirar a temperatura a um filho que parece febril? Quem é que não sabe o que é uma colher de sopa de xarope para o filho com tosse?

Vemos as horas, e os minutos, muitas vezes, todos os dias – medimos o tempo. Outros portugueses que nos Açores estejam a fazer coisa idêntica pela mesma altura, não acharão o mesmo valor. Ao mesmo tempo, em outros países são outras horas. Quem é que não sabe o atraso com que está para a entrevista das dez horas (10 h)? E em toda a parte os relógios não param. As balanças, os velocímetros, os contadores de eletricidade só medem quando são atuados; os relógios, quando funcionam, medem ininterruptamente, sempre a aumentar a contagem. Os contadores de água, eletricidade e gás também só registam aumentos, mas quando não gastamos, eles não contam, param. Os relógios, não. O tempo não volta para trás.

Pesamo-nos. Recolhemos o valor da temperatura no interior da habitação; e provavelmente damos uma olhadela ao barómetro para uma indicação da previsão do tempo. Fixamos, programamos a potência (750 W, por exemplo) e o tempo (40 s, por exemplo) para o aquecimento do copo (30 cL) de leite no micro-ondas: fixamos, quantificamos, determinamos a quantidade de energia a fornecer ao leite contido no copo. Em contrapartida, um cavaco, na lareira, debaixo da chaleira, não tem indicação da quantidade de energia que vai libertar!

Regularmente, enviamos aos nossos fornecedores de água, energia elétrica e gás as leituras dos respetivos contadores (medir é contar) da água, da energia elétrica, e do gás – medimos! Medimos a velocidade do carro, através do velocímetro, depois de acelerarmos durante alguns segundos e, de caminho, medimos a temperatura ambiente no exterior através do termómetro instalado no painel de instrumentos. No hodómetro, no mesmo painel de instrumentos, medimos a distância entretanto percorrida. Sim, leitor, o seu carro tem um hodómetro!

No supermercado pesamos as maçãs e as cebolas antes de as apresentarmos na caixa, onde eventualmente poderão ser pesadas de novo. Se sofremos de alguma doença crónica, medimos, por exemplo, a glicemia no sangue, medimos a pressão arterial e medimos a pulsação, em casa. E os valores recolhidos dão-nos algum conforto por que estão dentro do intervalo de segurança a que se costuma fazer referência, ou não, porque os valores medidos diferem dos valores de referência.

Medir é uma banalidade corrente em casa: é multímoda, inconsciente e automática. Medimos sem nos darmos conta de que levamos a cabo processos de medição.

Medir é cada vez mais uma rotina para um número crescente de pessoas; as medições são processos rotineiros para o cidadão comum. Sem medições, sentir-nos-íamos inseguros. Medir é uma componente civilizacional e essencial na vida contemporânea.

 

2015-09-17

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